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Câmbio
“O Cartel de Câmbio”
Roberto Giannetti da Fonseca
Roberto Giannetti
da Fonseca é economista e empresário
Na Teoria Econômica logo aprendemos que a taxa de câmbio é o principal preço de uma economia, pois de certa
forma ela afeta direta ou indiretamente todos os outros preços. Dada uma taxa de câmbio para uma determinada
moeda nacional, todos os preços relativos de ativos, passivos, exportações, importações, são afetados quando expres-
sos em qualquer outra moeda internacional. A volatilidade da taxa de câmbio re ete através de sua utuação a busca
do equilíbrio entre oferta e demanda de uma determinada moeda em relação as demais. O chamado câmbio de
equilíbrio de uma economia é o resultado síntese de todos outros movimentos de preços relativos desta economia.
Há um razoável consenso entre economistas de que a taxa de câmbio real de um país, se mantida em patamar ar-
ti cial por um período mais longo pode trazer vários danos para sua economia. Entre outros podemos destacar o
desequilíbrio nas contas externas, instabilidade macroeconômica, menor geração de emprego, distorção dos preços
relativos, má alocação de recursos pelo setor privado, e perda do dinamismo exportador. Poderia aqui me estender
no tema e discorrer por centenas de páginas sobre a teoria cambial e suas práticas ao longo do tempo em diversos
países e períodos, mas não é este o objetivo deste rumoroso capítulo que ora inicio.
Como Diretor Titular de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da FIESP por dez anos, de 2004 a 2014,
cumpri com frequência uma rotina de atender literalmente milhares de empresas paulistas e brasileiras no seu objetivo
de exportar ou importar produtos e insumos na sua atividade industrial. Por volta de 2009 percebi que além dos efeitos
da crise internacional de Setembro de 2008 sobre o comércio mundial, que aos poucos se recuperava, havia algo mais
sistêmico afetando o comércio exterior brasileiro. De um lado os exportadores brasileiros reclamavam da perda de
competitividade, pois enquanto seus custos em Reais aumentavam, a sua receita de exportação declinava, numa per-
versa combinação de preços internacionais mais baixos e taxa de câmbio Real/ Dólar, aparentemente sobrevalorizada.
De outro lado a indústria brasileira em geral reclamava da crescente e agressiva concorrência de produtos importados,
sobretudo de origem chinesa e asiática. Mesmo com fretes, impostos, e custos de importação, bens de consumo e maté-
rias primas chinesas chegavam ao mercado brasileiro muito mais barato do que aqueles produzidos localmente.
As consequências deste ambiente anômalo eu já conhecia como economista experiente em política cambial e como
empresário exportador que havia sofrido na pele os efeitos de uma prolongada sobrevalorização cambial durante a
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Este artigo é o Capítulo 17 do livro Penúltimas Memórias, publicado pela Editora Matrix em agosto de 2023.
26 Nº 157 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2023