Page 14 - Edição 153 da RBCE Revista Brasileira de Comércio Exterior
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Trade Finance









             Trade finance – ligando LE com CRE























                   Christian Ramos



          Inicio este artigo com uma interessante reflexão que pude assistir outro dia em um painel de discussão acerca do as-
          sunto trade finance, em um fórum internacional de debate. Nessa oportunidade, o grande professor e personalidade
          marcante do trade finance contemporâneo global, Geoffrey Wynne (sócio e head do Trade and Emerging Markets
          Finance e da Sullivan & Worcester UK LLP) assim definiu:
               essa classe de ativos é muito simples, um fornecedor produz algo, manufatura algo, ele então vende isso; o comprador
               paga por isso, o que o fornecedor vende torna-se seu recebível, o que o comprador paga, torna-se sua obrigação de
               pagamento. Isto é trade finance no seu nível mais simples! Mas claro que um twist nessa estrutura então aparece: quais
               são os termos dessa compra e venda; quando será feito o pagamento(?); o fornecedor quer ser pago o mais rapidamente
               possível, porque ele precisa do dinheiro, enquanto o comprador quer poder ter um prazo para efetuar este pagamento.
               Existe aí, portanto, uma lacuna maravilhosa que pode ser financiada, e isto cria essa classe de ativo (...)!

          É exatamente a partir das inúmeras combinações possíveis, em decorrência dessa lacuna, que temos uma miríade de
          estruturas e possibilidades financeiras categorizadas no trade finance. Existe, entretanto, um grupo também nume-
          roso de subcategorias dessa classe de ativos, mas que derivam da simplificação acima ilustrada e obedecem à mesma
          lógica, como os casos do commodity finance, supply chain finance, vendor finance, para citarmos algumas.
          Essa especialização da classe de ativos trade finance passa, também, nesse momento, por outra grande transformação,
          envolvendo seus participantes-financiadores e originadores. Tendo-se como ponto de partida, ao menos na história
          mais recente, um cenário no qual os grandes bancos com presença global dominaram boa parte das oportunidades,
          das maiores às menores, devido ao seu custo de capital competitivo (seja pelos depósitos de correntistas ou coloca-
          ção de papéis no mercado) e grande capilaridade ao redor do globo, hoje em dia, os ventos da mudança também so-
          pram por aqui. Ultimamente, percebe-se com muito mais regularidade nas operações transnacionais de trade finan-
         ce a presença de fundos de crédito especializados, hedge funds e fintechs, ou seja, participantes do mercado de capitais
         passando a ocupar esse espaço que, até há pouco, pertencia preponderantemente ao mercado financeiro tradicional.

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          Christian Ramos atua na estruturação de operações financeiras, societárias e de mercado de capitais, sendo citado como um dos líderes
          individuais nas áreas de Banking and Finance e Agribusiness no Brasil pelos principais rankings especializados. Especialista em Transações
          Internacionais e Finanças pela New York University (EUA), é formado em Direito pela USP e também é Mestre em Direito Internacional
          (LL.M) pela Georgetown University (EUA).

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