Page 13 - Edição 153 da RBCE Revista Brasileira de Comércio Exterior
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RBCE - A revista da



                                                              veículos elétricos e híbridos começa a substituir a movi-
                                                              da por gasolina e diesel.

                                                              Do ponto de vista meramente empresarial, será difícil
                                                              convencer investidores a destinar recursos para novas re-
                                                              finarias de perfil antigo, que podem se tornar obsoletas
                                                              em um horizonte de vinte a trinta anos. Mas é possível
                                                              encontrar quem se interesse na modernização e reade-
                                                              quação do parque brasileiro atual. Existe uma demanda
                                                              atraente atendida por importações, mas que somen-
                                                              te poderia ser substituída por uma produção nacional
                                                              competitiva. Produzir localmente com altos subsídios
                                                              não se justifica, a não ser no caso de o país concluir que
                                                              o quadro geopolítico irá se agravar, sobrepondo-se a fa-
                                                              tores econômicos e financeiros.

                                                              Talvez se possa encontrar meios termos. Entendimento
                                                              com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
                                                              (Cade) estabeleceu que a Petrobras reduzirá para o má-
                                                              ximo de 50% sua participação na capacidade brasileira
                                                              de refino. Como a companhia tem seu foco de investi-
                                                              mentos voltado para exploração e produção no pré-sal,
                                                              tal redimensionamento até se mostra hoje conveniente
          da guerra fria. O Ocidente se sente agora agoniado com  à empresa. A Petrobras foi até os anos 1980 uma com-
          a concentração da produção de microchips em Taiwan –  panhia essencialmente importadora de petróleo. Fazia
          o que barateou muito esse tipo de componente essencial  sentido que buscasse agregar valor a seu negócio inves-
          para tudo que envolve atividade eletroeletrônica, de um  tindo no midstreaming e no downstreaming, engloban-
          simples aparelho eletrodoméstico à mais sofisticada das  do transporte, refino e distribuição. As descobertas na
          máquinas – em face das ameaças de invasão ou interven-  camada do pré-sal redirecionaram completamente esse
          ção militar na ilha por parte da China (que antes parecia  foco para a exploração e a produção.
          ter admitido uma “coexistência pacífica” com o que in-
          titula de “província rebelde”). Há insegurança também,  O mercado brasileiro para petróleo, gás e derivados
          como é o caso do Brasil, de mercados que passaram a ser  permanece sendo um ativo importante. Dois terços
          dependentes de importações de fertilizantes da Rússia  do que a empresa produz de petróleo e 100% de gás se
          e Belarus (Bielorrússia) e agora ficaram apreensivos ou  destinam ao mercado interno, incluindo suas próprias
          vulneráveis a cortes no suprimento.                 refinarias. A proporção não é a mesma nas parceiras e
                                                              demais operadoras (exceto com relação ao gás), porém
          Em relação ao gás natural, petróleo e derivados surgiram  também para elas o mercado brasileiro é um importante
          incertezas e tensões que se assemelham às de tempos de  chamariz, pela proximidade dos campos de produção.
          crises mais graves no Oriente Médio. A Europa deu nó
          em pingo d’água para acumular estoques de gás natural  As equipes que se responsabilizarão pelas políticas in-
          que possibilitem a seus cidadãos enfrentar agora um ri-  dustriais e por questões energéticas em âmbito federal
          goroso inverno. E que a economia de toda a União Euro-  nos próximos quatro anos terão esse desafio pela frente:
          peia se readapte à falta de um gás russo bem mais barato  reduzir as vulnerabilidades nas importações de insumos
          do que o importado dos Estados Unidos e do Canadá.  básicos – seja no curto ou no médio prazo – sem re-
                                                              correr a malabarismos e artificialismos que se mostram
          Como então reposicionar as cadeias produtivas diante  inviáveis e insustentáveis com a passagem do tempo. É
          de um mundo em transição energética, que será mais ou  uma discussão que terá de envolver também os ministé-
          menos acelerada a depender dos acordos globais relacio-  rios das Relações Exteriores e da Defesa. Em um mun-
          nados às mudanças climáticas? A produção de biocom-  do ameaçado por guerras, petróleo, gás e seus derivados
          bustíveis tende a ganhar impulso (no Brasil, etanol de  voltam a ganhar importância estratégica. Solução fácil
          segunda geração, por exemplo), o hidrogênio verde vai  não há, no caso.
          virar realidade em horizonte não distante, e a frota de


          Nº  153 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2022                                                      9
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