Page 12 - Edição 153 da RBCE Revista Brasileira de Comércio Exterior
P. 12
Comentário Internacional
Exportar petróleo, importar derivados:
isso é bom, ruim ou não tem outro jeito?
George Vidor
é economista e jornalista
George Vidor
A produção brasileira de óleo e gás já ultrapassou o volume diário de três milhões de barris equivalentes, o que
tem proporcionado ao país uma capacidade de exportação da ordem de 1 milhão de barris de petróleo por dia, em
média. Com isso, o petróleo alterna com os minérios de ferro a liderança na pauta de exportações ou aparece na
segunda posição, quase sempre à frente do complexo soja, terceiro componente do nosso podium.
A perspectiva é que o petróleo se consolide no primeiro lugar, pois até 2026 a produção aumentará progressiva-
mente, à medida que entrarem em operação as novas plataformas encomendadas e/ou arrendadas pela Petrobras e
seus parceiros, assim como pelas demais operadoras. Grande parte desse incremento virá dos campos do pré-sal, de
elevadíssima produtividade (quase sem similares no mar) e boa qualidade.
Haverá, igualmente, um salto significativo na disponibilidade de gás natural, tornando possível – a depender da
construção de uma infraestrutura de transporte e processamento – uma oferta no mercado interno superior a 100
milhões de metros cúbicos por dia antes do fim da década. Nesse caso, todas as demandas projetadas para o insumo
estariam atendidas no país, reduzindo enormemente a dependência externa pelo produto, que, por conveniência
comercial e mesmo geopolítica pode, ou deve, continuar sendo importado.
Seja como for, o resultado da balança comercial brasileira referente a petróleo e combustíveis sofrerá uma mudança impor-
tante nos próximos anos, tanto pelo incremento das exportações, como pela substituição de gás natural importado e de
petróleo leve árabe, que supre antigas fábricas de lubrificantes da Petrobras. Essa perspectiva, quando levantada anos atrás,
chegou a motivar no meio acadêmico uma discussão sobre o risco de a economia brasileira enfrentar a chamada “doença
holandesa” – uma referência específica à valorização do câmbio causada pela produção de petróleo no Mar do Norte nos
anos 1970 e 1980. O tema não mais ocupa nossos economistas, hoje debruçados sobre outras questões.
Mesmo que o saldo comercial na conta do petróleo bruto e gás venha a aumentar, no balanço dos derivados continu-
arão a pesar as importações de gasolina e óleo diesel se não houver mudança substancial na capacidade de refino no
Brasil. As atuais refinarias brasileiras, mesmo que operassem continuamente a pleno vapor, só poderiam processar
cerca de 1,9 milhão de barris de petróleo por dia. Ainda assim, quase um quinto da demanda brasileira por óleo
diesel teria de ser atendida por importações.
Isso não passaria de uma mera questão comercial, envolvendo conveniências de mercado, se a guerra na Ucrânia não
tivesse sacudido a geopolítica no mundo. De certa forma, regredimos para um quadro que nos faz lembrar os tempos
8 Nº 153 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2022