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Competitividade
A competividade de um país ou de uma economia é fa-
tor fundamental para o crescimento econômico, para o “
progresso social, para a geração contínua de emprego e Se eu tivesse que optar por onde iniciar a
de elevação de renda para uma sociedade. Como airma- tarefa de recuperar a competitividade da in-
va o falecido embaixador Roberto Campos, mestre em dústria brasileira, não hesitaria em airmar
identiicar incongruências nacionais, “uma coleção de que seria pela questão tributária... Zerar tudo
obviedades acaba muitas vezes revelando a genialidade. e começar uma estrutura tributária racional,
Não sei por que, no Brasil, muita gente insiste em expli- simples e objetiva, bem equilibrada,
car a quadratura do círculo”. eliminando distorções e simpliicando
procedimentos para os contribuintes
O objetivo de uma política visando incrementar a
competitividade nacional neste momento seria, em “
síntese, a tarefa de ordenar inúmeras ações micro e
macroeconômicas, dispersas e difusas, que podem ou
não já estar em curso, seja por intermédio do governo,
seja pelos agentes privados, de forma que os esforços e Custos logísticos elevados, devido a uma matriz de
os recursos ali investidos tenham sincronia, sinergia e transportes predominantemente rodoviária, de bai-
maior eicácia. Muitas dessas iniciativas e das ações re- xa qualidade e sofrível manutenção.
sultantes têm sido inspiradas na experiência acumula-
da dos anos 1970 e 1980, e adaptadas para a atualidade • Elevado nível de proteção comercial com tarifas de im-
do novo ciclo de crescimento das exportações brasilei- portação superiores à média internacional – Tarifa Ex-
ras que se deseja estimular. Se não identiicarmos com terna Comum do Mercado Comum do Sul (TEC Mer-
clareza nossas deiciências competitivas e tentarmos cosul) –, que, consequentemente, resulta em baixo nível
obsessivamente corrigi-las, estaremos condenados a de integração competitiva às cadeias globais de valor.
um estágio de subdesenvolvimento em relação às ou- • Necessidade de atualização da pauta exportadora
tras nações mais competitivas. brasileira, de forma a nela incluir os chamados pro-
Quais seriam, então, as principais desvantagens com- dutos dinâmicos, cuja demanda mundial cresce a
petitivas da economia brasileira? Relaciono alguns dos taxas exponencialmente superiores às relativas aos
principais fatores de competitividade que precisam ser produtos tradicionais. Muitos desses produtos têm
enfrentados com irmeza: pouca ou nenhuma presença na atual pauta de nos-
sas exportações e deveriam ser objeto de estímulos
• Mão de obra pouco qualiicada, devido a deiciên- oiciais para que se veriique uma antecipação de sua
cias dos setores de educação básica e ensino prois- inclusão na estrutura exportadora brasileira. Entre
sional, além de um deiciente sistema público de outros que deveriam ser investigados e selecionados,
saúde. destacaria aqui: os setores de microeletrônica (semi-
condutores, circuitos impressos, componentes ele-
Tecnologia industrial defasada, com idade média trônicos etc.), biotecnologia, sotware, medicamen-
de 15 anos das máquinas e equipamentos em uso na tos, cosméticos, serviços técnicos especializados,
maioria dos setores da indústria brasileira, resultan- bens de informática e de telecomunicações.
do em baixa produtividade dos fatores de produção
e baixa qualidade dos bens produzidos. • Custo burocrático elevado, principalmente por ex-
cesso de regulações e intervenções de órgãos e autar-
• Custo elevado do capital de investimento e de giro, quias estatais na atividade econômica privada, desde
tornando mais oneroso o custo inal dos produtos, o registro das empresas até normas trabalhistas, am-
especialmente os de maior valor agregado e de ciclo bientais, regulatórias e contábeis.
mais longo.
• Baixo valor agregado da produção exportável ao
• Custo tributário elevado, especialmente de impos- longo da cadeia produtiva em cada setor. O ideal se-
tos cumulativos na cadeia produtiva, com incidên- ria ampliar a exportação de produtos acabados em
cia no faturamento, de complexa e onerosa gestão vez de produtos primários ou intermediários, visan-
tributária. do à agregação de valor na cadeia produtiva.
78 Nº 129 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2016