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RBCE - A revista da
produtos manufaturados, equivalente a um market-sha-
re de 1,5% das exportações mundiais. Foi nesse ano que
atingimos o auge de nossa participação relativa no valor
total das exportações mundiais.
A história é longa e talvez maçante pelos infortúnios de
nossa economia nas décadas de 1980 e 1990. Em síntese,
a economia brasileira nesse período, denominado “déca-
da perdida”, foi crivada tanto pela crise da dívida exter-
na, como por uma longa sequência de frustrados planos
econômicos que só izeram agravar os desajustes iscais
e monetários. Ocorreram nessa década vários ciclos de
impensável hiperinlação, até que em 1994 o Plano Real
veio estabilizar deinitivamente a economia brasileira,
mas com o viés da âncora cambial, mantendo o Real
sobrevalorizado por longo período até 1999. Os custos
dos fatores de produção expressos em moeda estrangeira
neste período pós-Real aumentaram muito mais que pro-
porcionalmente ao valor produzido, e isto foi fatal para a
continuidade do esforço exportador brasileiro, pois devi-
Muitas multinacionais estrangeiras já estavam estabele-
cidas no Brasil, e eram estimuladas a exportar seus pro- do ao fator cambial, as exportações subitamente icaram
dutos para outros países, caso quisessem também im- mais caras e as importações mais baratas, agravando nossa
portar insumos ou máquinas estrangeiras para sua subsi- competitividade relativa e determinando um crescente
diária brasileira; as novas multinacionais que desejassem déicit em contas correntes externas.
se instalar no Brasil só eram autorizadas se apresentas- No inal dos anos 1990, esta anunciada nova crise cam-
sem, desde o início, um compromisso mínimo anual de bial resolveu-se com a introdução de um regime de
valor de exportação através do Programa Especial de câmbio lutuante e um programa de inúmeras medidas
Exportação (Beiex). Havia uma verdadeira obsessão na- pró-exportação, como a criação da Agência Brasileira de
cional pelas exportações, e o exportador brasileiro era Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Bra-
visto como um patriota, um verdadeiro herói nacional. sil), do Programa de Financiamento às Exportações
Ainda não havia naquela época nenhuma evidência de (Proex) e da Câmara de Comércio Exterior (Camex),
concorrentes asiáticos, como temos hoje em dia. Produ-
tos chineses, nem sinal; eles estavam ainda envolvidos entre outras medidas. Aí começou a se desenhar um
na famigerada Revolução Cultural e reinava por lá uma novo ciclo virtuoso para as exportações brasileiras, que
absoluta desorganização produtiva e econômica. saltaram de cerca de US$ 50 bilhões em 2002 para mais
de US$ 250 bilhões em 2012, uma década depois. Em
E assim fomos aos poucos adensando a nossa pauta 2016, infelizmente estamos regredindo para menos de
exportadora com automóveis, autopeças, máquinas e US$ 200 bilhões, por conta de fatores externos e domés-
equipamentos, produtos siderúrgicos, químicos, papel e ticos que têm afetado os preços de nossas exportações e
celulose, pneumáticos, móveis, material de construção, a competitividade de nossa indústria manufatureira.
alimentos industrializados, eletrodomésticos, vestuário,
calçados, e até aviões regionais, além de tantos outros Contudo, não nos iludamos com estes números re-
itens de exportação de manufaturas. Aos poucos tam- centes. Na verdade devemos reconhecer que este salto
bém fomos conquistando mercados pioneiros, estabele- quantitativo das exportações brasileiras é mais bem ex-
cendo novas parcerias comerciais com uma pragmática e plicado pelo recente boom das commodities, do que por
agressiva diplomacia econômica, e assim multiplicamos um eventual súbito ganho de competitividade da eco-
nossas exportações ao longo da década de 1970 e início nomia brasileira. Ao contrário, ainda padecemos de um
dos anos 1980. Havia um programa consistente e coni- conjunto de desvantagens competitivas que oneram o
ável de apoio às exportações brasileiras, e já em 1985 o custo de nossos produtos e determinam uma baixa pro-
Brasil despontava como um exportador em plena ascen- dutividade de nossos fatores de produção, especialmen-
são, atingindo naquele ano um valor total de cerca de te no setor industrial, já que no agronegócio, de maneira
US$ 25 bilhões, dos quais pouco mais de 50% eram de geral, o Brasil ainda permanece em boa posição relativa.
Nº 129 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2016 77