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Competitividade














            Foco na agenda de competitividade










                                                               Roberto Giannetti da Fonseca
                                                é presidente do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal) e da
            Roberto Giannetti da                                     Kaduna Consulting
                Fonseca


          Ao tratar do tema competitividade, em primeiro lugar é preciso se ter a exata noção da importância da competiti-
          vidade sistêmica para o crescimento da economia de um país ou da busca de uma melhor lucratividade ou até da
          própria sobrevivência de uma determinada indústria.

          Em 1975, quando adentramos o ultimo quartil do século XX, o Brasil ainda era um tradicional exportador de com-
          modities, com larga predominância do café em nossa pauta de exportações. Entretanto, a súbita elevação do preço
          do petróleo em 1973 havia gerado um déicit comercial periclitante para a economia brasileira, e as reservas cam-
          biais mal davam para cobrir alguns meses de importações essenciais para nosso país. Nossas exportações totais em
          1975 eram de US$ 6 bilhões, e o café isoladamente representava cerca de 60% deste total. Ainda havia exportações
          de outras commodities agrícolas e minerais como o cacau, o açúcar, e o minério de ferro, que elevavam as exportações
          de produtos básicos para cerca de 80% do total. Apenas 20% das exportações brasileiras de então, ou cerca de US$
          1,2 bilhão, eram produtos manufaturados e de baixo ou médio valor agregado.

          Naquela conjuntura nacional de grave crise cambial, logo após o primeiro choque de alta dos preços de petróleo em
          1973, surgiu uma forte e indispensável política de apoio às exportações brasileiras, focando principalmente nossa
          incipiente indústria de produtos manufaturados. Podia-se dizer, naquela época, que era quase uma missão impossí-
          vel exportar produtos manufaturados brasileiros e concorrer em preço e qualidade com similares europeus, ameri-
          canos e asiáticos. Obviamente, as melhores possibilidades de exportação de nossas manufaturas estavam nos países
          em desenvolvimento na própria América Latina e no continente africano. As condições básicas de competitividade
          estavam sendo desenhadas nesta nova política de estímulo às exportações: nossos preços precisariam ser relativa-
          mente mais atrativos, em face de fatores de produção competitivos e de uma taxa de câmbio vigente igualmente
          competitiva e previsível, por conta de uma regra de minidesvalorizações diárias. Além disto, foram fundamentais,
          neste período, políticas públicas de fomento à modernização industrial, incluindo a incorporação de novas e mo-
          dernas tecnologias e processos produtivos, e, principalmente, de incremento da produtividade da mão de obra pelo
          treinamento em órgãos como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
          A Carteira de Comércio Exterior vinculada ao Banco do Brasil (Cacex) era na prática uma poderosa Agência Fede-
          ral de Comércio Exterior, que estimulava as exportações com inanciamentos competitivos nas fases pré e pós-em-
          barque, com ressarcimento tributário através do mecanismo do crédito prêmio, e ainda prestava todo apoio técnico
          e institucional na promoção de nossas exportações. A qualidade de nossos produtos ainda era mediana, mas perfei-
          tamente aceitável e, de certa forma, mais apropriada para os países de menor renda para os quais nos dirigíamos, em
          concorrência aos tradicionais produtores exportadores europeus.

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