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RBCE - A revista da



                                                              Um segundo Grupo de países, liderado pela União Europeia
                                                              (UE), vem se notabilizando pela implementação de uma re-
                                                              gulação rigorosa para a IA, na medida em que priorizam a
                                                              promoção  de  um quadro  legal,  destinado  a proteger  os  di-
                                                              reitos fundamentais e a assegurar o uso ético da tecnologia.

                                                              Deve-se mencionar um terceiro Grupo, composto por
                                                              aquelas nações sem perspectiva imediata de desenvolver
                                                              tecnologia de IA em maior escala, e que não dispõem
                                                              de regulamentações (mesmo que, eventualmente, se po-
                                                              sicionem na cadeia global de suprimentos, fornecendo
                                                              recursos estratégicos como o lítio, silício e terras raras).

                                                              O Grupo 3, na minha opinião, seguirá os destinos som-
                                                              brios preconizados por Manuel Castells, que desde a
                                                              segunda metade do século XX anteviu o aumento do
                                                              fosso entre as sociedades “com e sem primazia”, em tec-
                                                              nologias estratégicas. Em 2025, o diretor geral da OMC
                                                              (Ngozi Okonjo-Iweala) respaldou a tese de Castells, ao

                                                              a rmar que “sem investimentos adequados, a IA amplia-
                                                              rá as disparidades entre as distintas economias”.

                                                              Por decorrência, o debate em torno da regulação, do desen-

          A EVOLUÇÃO DA IA NO MUNDO FREN                      volvimento e da utilização em larga escala da IA ampli ca, a
          TE À NOVA ORDEM GEOPOLÍTICA                         cada dia, os atritos globais. O tabuleiro da geopolítica mun-
                                                              dial tem, como objetivo maior, a disputa pelo alargamento
                                                              da fatia no comércio internacional. O ganho de produtivi-
          A evolução da IA, dentro da nova ordem geopolítica, des-  dade, advindo da IA, já se tornou uma espécie de Leviatã,
          cortina três abordagens distintas, por parte das nações.
                                                              no modelo clássico conceituado por  omas Hobbes.

          Existem aqueles países que se encontram na vanguarda
          do desenvolvimento da IA, o chamado Grupo 1 (Esta-
          dos Unidos, China e, de forma emergente, a Índia, os  UM SOBREVOO PELOS DIVERSOS PA
          Emirados Árabes Unidos, Vietnã, Singapura, Taiwan   ÍSES E SEUS PLANOS/REGULAÇÕES
          e Coréia do Sul, dentre outros). Eles aplicam, cada vez   PARA A IA
          em maior escala, recursos vultosos em desenvolvimento
          de soluções, pesquisas, cadastros de patentes, inovação,   Não por acaso, Estados Unidos, China, Índia, Emirados
          projetos de semicondutores avançados e destravamento   Árabes Unidos, Taiwan, Vietnã e Coréia do Sul, dentre
          de burocracia para obras destinadas à geração de energia.  outros, se movimentam com planos de ação bem estru-

          Nos próximos anos, a prioridade dos países do Grupo  turados, para prover o desenvolvimento e o uso da IA
          1 recairá em consolidar uma visão mais estrutural para   (seja em suas cadeias produtivas, ou de logística).
          a IA. Ela não será mais vista como uma tecnologia inde-  Estes países, como eu já destaquei, apostam todas as  -

          pendente, mas como uma infraestrutura de alta capaci-  chas, entendendo que os desígnios do comércio inter-
          dade de transformação para a indústria, para a cadeia de   nacional serão decididos pelo ganho de produtividade
          logística e para a consecução dos processos de produção.  advindo da alta tecnologia e do conhecimento.

          A IA será a camada invisível, que sustentará a próxima   Na divulgação do America’s AI Act, o governo ameri-
          fase da transformação industrial e do comércio interna-  cano tornou público os pilares norteadores da IA nas
          cional (provocando ganhos expressivos de produtivida-  terras do Tio Sam:
          de). Para os países deste Grupo 1, a adoção da IA será o
          diferencial, que ensejará mais espaço no comércio com   a) Avançar sem freios, para construir uma infra
          as demais nações.                                       ainda mais robusta de data centers.


          Nº  164 - Julho, Agosto e Setembro de 2025                                                         19
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