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Comentário Internacional
E “la nave va”
George Vidor
é economista e jornalista
George Vidor
O ano de 2025 foi recheado de sobressaltos para o comércio exterior e a economia brasileira, em função da sobre-
taxação imposta pelo governo Trump a uma série de produtos, inviabilizando o acesso ao mercado americano de
uma parcela considerável da pauta de exportações do país. Inacreditavelmente, nessa lista guraram produtos que
fazem parte do cotidiano dos norte-americanos há dezenas de anos, como o café, o açúcar e a carne bovina. Outros
alimentos foram levados de roldão, como frutas e pescados. Além de manufaturados, como confecções e têxteis.
Exportadores e importadores buscaram saídas e alternativas, e o resultado acabou não sendo tão dramático. Porém, todo
esforço permanece válido para que o tarifaço seja revisto e as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, até então
muito sólidas, se normalizem. E até avancem, como deverá acontecer entre os países do Mercosul e a União Europeia.
No horizonte de médio prazo, excetuando o entrevero com o governo americano sem que o Brasil tenha dado
razões para tal, sempre é bom rea rmar que entre os países que compõem o chamado G 20, apenas três têm dé cit
comercial com os Estados Unidos, entre os quais o Brasil – as perspectivas se mostram positivas. Entrarão em vigor
os acordos comerciais com a União Europeia e possivelmente até antes disso o que já está acordado com países da
Europa que estão fora da UE, como Suíça, Noruega e Islândia.
Diversi car exportações para a Ásia continua sendo um desa o, mas ainda que, do lado das vendas para lá, tenha-
mos um comércio concentrado em poucos produtos. o incremento do volume transacionado pode favorecer uma
mudança. A logística no Brasil está melhorando, o que é fundamental para se chegar aos mercados mais distantes,
como os asiáticos. Se o porto de Santos anda congestionado, exporta-se ou importa-se pelo Porto do Rio, que pas-
sou a ter um calado capaz de receber navios até mais carregados (em função dessa opção, o porto do Rio saltou de
sétimo para o quarto lugar em movimento). E a carga pode chegar de ferrovia, quem diria! Estão em andamento,
ou prestes a começar, vultosos investimentos nos diferentes modais de transportes que funcionam como corredores
para o comércio exterior. Em suma, a logística deixa de ser um dos gargalos que prejudicam a evolução do comércio
exterior brasileiro.
A reforma tributária que entrará em pleno vigor no ano de 2033 (porém já começando por etapas em 2026) tem
deixado as empresas ansiosas, porque se trata de uma grande mudança e só na prática saberemos qual o seu ver-
dadeiro resultado. Mas, sem dúvida, haverá uma grande simpli cação capaz de tornar o nosso sistema tributário
semelhante ao que vigora hoje em grande parte das principais economias. Sonegar cará bem mais difícil e a guerra
6 Nº 164 - Julho, Agosto e Setembro de 2025

