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China
Do WeChat ao DeepSeek: um olhar crítico sobre
a tecnologia chinesa para brasileiros
aís Moretz-Sohn Fernandes
aís Moretz proprietária da empresa THAE Consulting
Desde que regressei ao Brasil em de nitivo, em 2022, após residir por seis anos na China, voltei ao país asiático ou-
tras duas vezes: uma em 2023 e outra em 2024. Sempre penso que farei mais viagens, duas ou três vezes ao ano, mas,
na prática, até agora, uma tem sido su ciente. Um dos motivos é que, na China, tenho a minha empresa, a THAE,
que conta com uma extensa rede de pro ssionais e freelancers para atender diversos setores e províncias, sem a
necessidade de eu estar lá presencialmente. Além disso, usufruímos as facilidades proporcionadas pelas conexões
digitais. Com os inúmeros aplicativos e recursos tecnológicos somados à atuação dos meus colegas no mercado,
consigo manter os negócios com a China, mesmo estando distante.
As vantagens da presença física na China foram destacadas no artigo Uma Nova Cultura Exportadora para a China
(Moretz, 2024). Na ocasião, trouxe exemplos de empreendedores que residem no mercado chinês e conseguem usar
isso como vantagem competitiva, para conhecer normas, regulamentos, cultura e participar ativamente de eventos
e encontros com clientes.
Nesta minha nova contribuição para a Revista Brasileira de Comércio Exterior, venho falar um pouco mais sobre
outro caminho também possível e, muitas vezes, complementar: as possibilidades oferecidas pelos recursos digitais.
Dividi este texto em duas partes. Na primeira, abordo o WeChat, um mega-app com funcionalidades que combi-
nam recursos similares aos do Instagram, WhatsApp, X e TikTok, em um único lugar. Ele ainda possui miniaplicati-
vos embutidos, facilitando compras e serviços on-line.
Também falo brevemente sobre outras plataformas chinesas como o Youku e o Weibo e as especi cidades de terem
sido, na maioria das vezes, construídas para funcionar dentro da China, para os chineses, como substitutos de apps
ocidentais bloqueados pelo governo chinês, como Instagram, YouTube e Facebook.
Na segunda parte, comento sobre a ascensão do DeepSeek e sobre uma característica peculiar dessa nova geração de
apps na China: estão sendo desenvolvidos com um caráter internacional desde o princípio, projetando a tecnologia
chinesa globalmente e competindo com apps ocidentais, em vez de serem focados no público chinês. Isso implica em
uma grande competição internacional, e os consumidores e empresas terão, em alguns momentos, que fazer esco-
lhas. Em outros, dependerão do próprio sistema internacional, que pode disponibilizar ou impedir o funcionamento
de alguns desses recursos, como exempli carei adiante.
24 Nº 162 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2025