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RBCE - A revista da
por vendendores chineses e o segundo b por compra-
dores estrangeiros. Não existe uma plataforma similar “ Como tendência, vejo mais aplicativos
chinesa onde o primeiro b – vendedor – seja composto
por estrangeiros e o segundo b, compradores chineses. chineses chegando com características
ocidentais. Isso facilitará nossa
De fato, os chineses estão ultra avançados no desenvol-
vimento de apps para e-commerce e, assim como o Ali- aceitação deles. Contudo, isso
baba, a China começou a construir largas avenidas para também ampliará a distância entre nós
levar aplicativos similares para o mundo, com o grande e a China, já que os apps que a China
objetivo de colocar mais produtos chineses em outras
economias. Haja vista o Temu, a Shein e o Aliexpress en- exporta para o mundo são, na maioria
tre outros. Contudo, para se acessar o mercado chinês, a das vezes, diferentes dos que ela usa
rua é estreita, esburacada e congestionada. Para se desta- internamente
car, é preciso ter paciência, persistência e estratégia.
Além disso, é preciso conhecer muito bem todo esse ”
ecossistema digital chinês que tem muitas peculiari-
dades, e estar disposto a fazer investimentos. A LVMH E então a China passou a exportar esses apps e o seu
obteve sucesso integrando vários canais e diferentes mi- modelo de e-commerce para o mundo, sempre com o
ni-apps do WeChat com uma presença em outros apps principal objetivo de vender produtos chineses, e não de
de e-commerce, e uma junção o2o – on-line to o -line. comprar produtos estrangeiros. Recentemente, surgiu o
Cada vez mais, empresas investem em sedução ao clien- DeepSeek, um modelo aparentemente copiado do Chat
te e integração de experiências. O próprio Taobao, que GPT, mas muito mais econômico e, segundo algumas
passou a encontrar uma concorrência maior com os críticas, ainda melhor em rapidez de raciocínio e pro-
novos aplicativos que estão surgindo, começou recente- cessamento de linguagem. A ruptura foi tão grande que
mente a instalar lojas físicas na China. atraiu a atenção de todo o mundo, e chegou a abalar as
bolsas de valores nos Estados Unidos (Spadoni, 2025) e
instigar Elon Musk a querer comprar a OpenAI, criado-
DEEPSEEK E A NOVA GERAÇÃO DE ra do ChatGPT.
APPS CHINESES Não surpreende, no entanto, que a China tenha uma in-
fraestrutura tecnológica tão avançada. Há uma década,
Recentemente, um famoso professor chinês que veio o governo chinês vem incentivando o desenvolvimento
ao Brasil para uma aula magna na Saint Paul falou, sem no setor. As políticas Made in China 2025 e a Internet
qualquer tipo de constrangimento, que ensina seus alu- Plus são dois exemplos de iniciativas lançadas pelo go-
nos chineses a “copiarem” as ideias ocidentais e a ganha- verno chinês no ano de 2015 para fortalecer a economia
rem dinheiro com isso. De fato, culturalmente, a China digital da China e promover a sua autossu ciência tec-
não tem vergonha de copiar. Isso aconteceu primeiro de nológica. Enquanto a Internet Plus focava em transfor-
maneira grosseira, com cópias falsas de marcas consa-
gradas, levantando acusações globais de falsi cações e ............................................................................
piratarias. Com o tempo, a China passou a desenvolver
suas próprias marcas, com qualidade semelhante. E isso
também serve para os aplicativos.
Lembremos que, na China, muitos recursos digitais do
Ocidente foram bloqueados. Websites e apps como Twi-
tter (agora X) e YouTube nunca existiram na China. No
seu lugar, surgiram os chineses “inspirados” nos originais,
como o Weibo, que replica o Twitter, e o Youku, que é uma
cópia do YouTube. Depois, a China começou a desenvolver
apps com sua própria inteligência e criatividade, como o
TikTok (que na China é o Douyin), o Xiaohongshu e o
Bilibili, também voltados para vídeos curtos.
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