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RBCE - A revista da
                       Perspectivas Econômicas








             O Brasil e o G20




















                                                                            Paulo Roberto de Almeida
                                                                             é diplomata e professor

              Paulo Roberto de
                Almeida

          O Brasil assumiu a presidência temporária do G20 em 1º de dezembro de 2023, e conduzirá os trabalhos do grupo
          durante todo o ano de 2024, culminando com o encontro dos chefes de Estado e de governo no Rio de Janeiro nos
          dias 18 e 19 de novembro. Uma primeira etapa de de nição de prioridades já foi realizada no Rio de Janeiro, em  ns de
          fevereiro, com a presença dos ministros das Relações Exteriores e representantes de organismos internacionais, durante
          a qual o Brasil apresentou as suas metas ao grupo. A reunião enfrentou algumas di culdades, uma vez que, no debate,
          foram levantadas questões sobre os atuais con itos no mundo: a guerra da Rússia contra a Ucrânia, desde 23 de feve-
          reiro de 2022, e a guerra Hamas-Israel, desde 7 de outubro de 2023.

          É evidente que o G20, tendo em vista seu foco tradicional nos temas econômico- nanceiros, com alguma derivação
          para a agenda ambiental desde alguns anos, será incapaz, e sequer possui mandato para encaminhar qualquer solução,
          mesmo precária, para essas tragédias que afetam as relações internacionais, reforçando o sentimento de que o mundo
          consolidou o cenário geopolítico de uma Segunda Guerra Fria, já em curso há mais de dez anos, sobretudo no campo
          econômico e tecnológico, entre as duas maiores economias da atualidade: os Estados Unidos e a China. Entretanto,
          não é objetivo deste trabalho concentrar o foco nas questões geopolíticas, de confrontos interimperiais.

          Cabe, da perspectiva do Brasil, concentrar a atenção nas prioridades brasileiras estabelecidas para a sua presidência.
          O cialmente, elas são as seguintes: (1) a inclusão social e o combate à fome e à pobreza; (2) a promoção do desen-
          volvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental e transições energéticas; e (3) a reforma das
          instituições de governança global, incluindo as Nações Unidas e os bancos multilaterais de desenvolvimento.

          Para  as  primeiras  duas  prioridades,  o  governo  brasileiro  propôs  a  constituição  de  duas  forças-tarefas  (task  forces):  a
          primeira seria o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, e a segunda, uma mobilização contra a
          Mudança do Clima e a Iniciativa para Bioeconomia. Caberá seguir os trabalhos dessas duas forças-tarefas, mas o objeti-
          vo aqui é discutir as chances de o Brasil conseguir resultados satisfatórios nas três prioridades o cialmente apre sentadas
          como relevantes do ponto de vista da melhoria na agenda multilateral, no atual estado fragmentado das relações entre
          as grandes potências e entre o que se convencionou chamar de Ocidente versus Sul Global.

          No tocante à primeira missão brasileira, trata-se de um objetivo permanente do PT no plano interno, que também
          foi objeto de uma iniciativa do presidente Lula desde o início de seu mandato. Desde a campanha presidencial, em
          2002, ele anunciava, como a grande prioridade de seu governo, acabar com a fome no Brasil, tentando fazer, por meio


          Nº  158 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2024                                                       19
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