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RBCE - A revista da



          brasileira é muito distante daquela em que o engajamen-  forme será abordado mais adiante. Uma possibilidade
          to ocorreria por motivação intrínseca. Nesse contexto  aventada seria uma dupla coordenação com o governo
          de divergência aventam-se opções como uma obrigato-  na gestão dos dados e o setor privado constituindo um
          riedade regional ou parcial, uma vez que em territórios  arranjo para gerir a identi cação individual.
          com risco diminuído esse custo não vale ser incorrido.
          Nota-se, entretanto, a importância de diferenciar riscos
          sanitários e ambientais, uma vez que eles não necessaria-  Mecanismos e Instrumentos
          mente são correspondentes em determinada região.    A rastreabilidade é defendida pelo governo federal como
                                                              um instrumento para promoção de políticas públicas
          O entendimento predominante dos participantes é de  sanitárias e garantia da sanidade de bovinos no territó-
          que o sistema seja gradualmente implementado em dire-  rio brasileiro. Tem caráter obrigatório e individual. No
          ção à individualização, especialmente no que se refere ao   entanto, o mero desenvolvimento de uma ferramenta
          aspecto sanitário, já que tal característica é crucial para   não é su ciente para garantir sanidade e segurança do
          uma efetiva rastreabilidade de cunho sanitário.  uando   alimento. Especi cações relacionadas a monitoramento
          o propósito é ambiental tem-se alguma  exibilização em   e controle e sua governança são necessárias. A legitimi-
          direção à ideia de que a rastreabilidade coletiva poderia   dade da ferramenta, ou seja, da rastreabilidade como um
          ser su ciente. Entre alguns participantes há o entendi-  fator que pode conferir abertura de novos mercados ou
          mento de que a rastreabilidade individual é muito cus-  manutenção de mercados já estabelecidos acontece à
          tosa para atender ao propósito estritamente ambiental,   medida que os controles de todo o sistema possam ser
          e que não se trata de uma dicotomia, pois a de nição  veri cados por terceiros.
          entre a adoção individual ou coletiva deveria ser condi-
          cionada ao contexto ambiental regional.             Os instrumentos atuais não são considerados su cientes
                                                              para garantir a rastreabilidade. No entanto, divergências
          Agente Coordenador                                  aparecem  quanto  à  forma  de  adaptação  e  ao  que  preci-
                                                              sa  ser  criado.  Entre  aqueles  que  responderam  que  uma
          A designação do agente coordenador variou em função   adaptação é necessária, foram listados: instrumentos de
          do caráter obrigatório ou voluntário conferido ao sis-  política  que  sejam  amplamente  aceitos  pelo  mercado,
          tema de rastreabilidade. Dentro de uma concepção de  criação de banco de dados de qualidade com a inclusão
          obrigatoriedade o governo federal (Mapa) foi o mais  de critérios socioambientais, e o desenho de uma forma
          citado para centralizar o processo e coordenar a base  de ligar o CPF do produtor com o dispositivo de iden-
          de dados. A participação dos governos estaduais seria  ti cação  do  animal.  A  preocupação  com  a  divergência
          importante para facilitar a adoção e conferir  uidez ao   existente entres as bases de dados brasileiras e como esse
           uxo de informações.                                aspecto gera ine ciência para o setor foi muito enfatiza-
                                                              da.  Argumenta-se  que  diferentes  organizações  buscam
          Surgiu também a  gura de uma nova instituição que seria
          criada unicamente com o desígnio de estruturar e imple-  formas  de  apurar  e  cruzar  dados  e  despendem  recursos
          mentar a rastreabilidade na cadeia da pecuária. A “Agên-  para  isso,  enquanto  poderia  haver  maior  homogenei-
          cia da Carne” – atrelada ao governo – teria como princi-  zação  de  informações  em  uma  plataforma  única,  bem
          pal  nalidade a gestão de recursos para implementação do   como um cadastro universal relativo à propriedade rural.
          aparato necessário para sustentar o sistema. Observou-se   Os seguintes mecanismos e instrumentos para fazer a
          a necessidade de criação de um fundo para obtenção de   rastreabilidade individual foram debatidos:
          recursos. Tal instrumento contaria com o aporte de agen-
          tes  privados  da  cadeia,  uma  vez  que  a  formação  de  um  1) Uniformização e uni cação cadastral dos estabeleci-
          fundo público apresenta impeditivos legais no Brasil.  mentos rurais.

          O setor produtivo se posicionou de maneira bastante as-  2) Utilização da numeração 076 como o cial do Mapa.
          sertiva em favor de uma coordenação privada, executada  Numeração única cuja distribuição pode ser feita de di-
          pela representação de classe do setor (CNA) e inserida  ferentes formas, em vários locais, com o uso embarcado
          no contexto de não obrigatoriedade. Há uma descon-  em diversas tecnologias de modo a garantir o acesso aos
           ança muito grande em relação a gestão e segurança  produtores.
          (sigilo) de dados uma vez implantada a rastreabilidade.
          Isso se re ete na coordenação almejada bem como no  3) Criação de um protocolo de base, simpli cado, para
          desenho dos incentivos para adoção da ferramenta, con-  atender produtores em conformidade legal. Demais


          Nº  157 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2023                                                     49
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