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Rastreabilidade








             Considerações para um Sistema de


             Rastreabilidade e Monitoramento


             na Pecuária Brasileira
















               Camila Dias   Fernanda K.   Marcos Sawaya
                 de Sá    Lemos      Jank

          INTRODUÇÃO


          A exigência por rastreabilidade tem acompanhado o desenvolvimento de cadeias de fornecimento nacionais e glo-
          bais. Como o consumidor, em geral, está distante da origem dos produtos o rastreamento serve ao propósito de
          conferir transparência em relação a produção, processamento e distribuição de matérias-primas e insumos. Origi-
          nalmente a preocupação com aspectos sanitários da produção foi o principal direcionador da rastreabilidade, mas
          ao longo do tempo mais camadas têm sido adicionadas, como as questões relacionadas com sustentabilidade (garan-
          tia de direitos trabalhistas, bem-estar animal, comércio justo e preservação ambiental). Diante dessa realidade, os
          países produtores têm sido compelidos a oferecer evidências de que a sua produção agropecuária não oferece riscos
          à saúde humana, não contribui para a crise climática e não compromete a biodiversidade.

          O Brasil, em virtude do seu posicionamento como importante fornecedor global de alimentos e detentor de grande
          biodiversidade, tem sido cobrado de forma veemente por mais transparência de sua produção. O país deve se tornar
          livre de a osa sem vacinação em 2026 e, nesse sentido, a defesa sanitária agropecuária precisa fazer uma transição
          estrutural capaz de manter a credibilidade do país perante os consumidores nacionais e internacionais. Isso implica
          a construção de um sistema de rastreabilidade robusto capaz de garantir o zoneamento sanitário e medidas de con-
          tingência locais diante da iminência de doenças.

          Na esfera ambiental observa-se a multiplicação de pleitos pela dissociação entre produção agropecuária e desmata-
          mento, seja na forma de compromissos privados ou legislações com implicações extraterritoriais. Nessas circunstân-
          cias a rastreabilidade é umas das principais ferramentas de ação. Ainda que sua exigência seja frequentemente vista
          como protecionismo, em forma de barreiras não tarifárias, ela tem o potencial de gerar benefícios reputacionais
          ao país. Outros benefícios também podem ser usufruídos, tanto por quem produz como por quem consome. Po-
          rém, a implementação de um sistema de rastreabilidade não é estratégia trivial e encampa riscos e desa os diversos.
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          Camila Dias de Sá é pesquisadora e professora do Insper Agro Global.
          Fernanda K. Lemos é pesquisadora do Insper Agro Global e do Metricis.
          Marcos Sawaya Jank é professor sênior de agronegócio global do Insper e coordenador do Insper Agro Global.
          Nota: Os resultados apresentados baseiam-se em coleta de posicionamentos de agentes da cadeia e não necessariamente re etem a visão do Insper Agro
          Global e seus pesquisadores.

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