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RBCE - A revista da



                                                              exercido de maneira colegiada, com base em critérios
                                                              técnicos, evitando-se a politização. Sem autonomia, os
                                                              bancos  centrais  não  conquistam  su ciente  credibilida-
                                                              de, necessária para que suas iniciativas tragam resultados
                                                              mais rápidos sobre as expectativas dos agentes econômi-
                                                              cos.  uanto mais rápido isso ocorrer, menos dolorosos
                                                              podem ser os remédios aplicados para se alcançar os
                                                              objetivos desejados. Sim, porque mesmo autônomos os
                                                              bancos centrais não podem agir, e nem deveriam agir,
                                                              de maneira aleatória, sem planejamento. Precisam ter
                                                              missões, objetivos prede nidos. O regime de metas de
                                                              in ação foi adotado em várias economias desde a déca-
                                                              da de 1990, e vem sendo bem-sucedido como forma de
                                                              conciliar o conjunto de políticas governamentais à ação
                                                              dos bancos centrais. No Brasil as metas são estabeleci-
                                                              das pelo Conselho Monetário Nacional, no qual o presi-
                                                              dente do Banco Central tem somente um dos três votos.
                                                              Dois votos são dados por ministros nomeados pelo pre-
                                                              sidente da República.
                                                              A in ação baixa é fundamental para a manutenção do
                                                              poder aquisitivo da população. Amplia os horizontes
                                                              de uma economia e, com isso, é um dos fatores capazes
          Os mercados  nanceiros se so sticaram com a multiplica-  de estimular investimentos, crescimento, geração de
          ção de ativos, e não é possível agir sobre o crédito apenas  emprego e renda. Políticos costumam acusar os bancos
          com olhos atentos ao volume de papel-moeda em circula-  centrais de falta de sensibilidade social. Como, se a mis-
          ção e ao montante de depósitos à vista no sistema bancário.  são deles é essencial para o desenvolvimento econômico,
          Muitos especialistas em teoria monetária chegam a despre-  sem o qual não há possibilidade de se resolverem os pro-
          zar a velha teoria quantitativa da moeda (M.V = P.T), pela  blemas sociais?
          qual se deduzia que o volume de moeda em circulação era o
          determinante no nível de preços de uma economia.    Isso não quer dizer que os bancos centrais devem  car
                                                              imunes a críticas. Podem tomar decisões equivocadas
          Seja como for, os bancos centrais mantêm nas mãos uma  porque seus dirigentes são seres humanos que não têm
          poderosa ferramenta, que é a taxa básica de juros. Como  bola de cristal e estão sujeitos a erros. As críticas con-
          os bancos centrais podem, em tese, comprar e vender  tribuem para dar às autoridades monetárias a necessária
          ativos  nanceiros, sem limites, têm o poder de arbitrar  dose de humildade de que precisam para aceitar e corri-
          essas taxas. Chegando até mesmo a caminhar em dire-  gir os rumos quando  cam aquém ou vão além de onde
          ção contrária à que os governos resolvem percorrer na  deveriam ir.
          execução dos orçamentos, gastando, por exemplo, bem
          mais do que deveriam.

          As taxas básicas de juros não são determinantes de tudo   “
          o que acontece nas economias. Porém, sem dúvida, in-
           uenciam fortemente  uxos de capitais, decisões de in-    Sem autonomia, os bancos centrais
          vestimentos, formação de estoques. E, o que talvez seja
          mais relevante, as expectativas em relação ao futuro,          não conquistam su ciente
          imediato e de longo prazo.                                 credibilidade, necessária para que
                                                                     suas iniciativas tragam resultados
          É justo conceder esse poder quase divino aos bancos
          centrais? Com algumas travas, certamente que sim,        mais rápidos sobre as expectativas dos
          como tem demonstrado a experiência internacional.                 agentes econômicos
          Os seus dirigentes geralmente têm mandatos de nidos,
                                                                                                            ”
          com tempo para terminar. Esse poder quase divino é


          Nº  155 - Abril, Maio e Junho de 2023                                                               7
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