Page 11 - RBCE 155
P. 11
RBCE - A revista da
exercido de maneira colegiada, com base em critérios
técnicos, evitando-se a politização. Sem autonomia, os
bancos centrais não conquistam su ciente credibilida-
de, necessária para que suas iniciativas tragam resultados
mais rápidos sobre as expectativas dos agentes econômi-
cos. uanto mais rápido isso ocorrer, menos dolorosos
podem ser os remédios aplicados para se alcançar os
objetivos desejados. Sim, porque mesmo autônomos os
bancos centrais não podem agir, e nem deveriam agir,
de maneira aleatória, sem planejamento. Precisam ter
missões, objetivos prede nidos. O regime de metas de
in ação foi adotado em várias economias desde a déca-
da de 1990, e vem sendo bem-sucedido como forma de
conciliar o conjunto de políticas governamentais à ação
dos bancos centrais. No Brasil as metas são estabeleci-
das pelo Conselho Monetário Nacional, no qual o presi-
dente do Banco Central tem somente um dos três votos.
Dois votos são dados por ministros nomeados pelo pre-
sidente da República.
A in ação baixa é fundamental para a manutenção do
poder aquisitivo da população. Amplia os horizontes
de uma economia e, com isso, é um dos fatores capazes
Os mercados nanceiros se so sticaram com a multiplica- de estimular investimentos, crescimento, geração de
ção de ativos, e não é possível agir sobre o crédito apenas emprego e renda. Políticos costumam acusar os bancos
com olhos atentos ao volume de papel-moeda em circula- centrais de falta de sensibilidade social. Como, se a mis-
ção e ao montante de depósitos à vista no sistema bancário. são deles é essencial para o desenvolvimento econômico,
Muitos especialistas em teoria monetária chegam a despre- sem o qual não há possibilidade de se resolverem os pro-
zar a velha teoria quantitativa da moeda (M.V = P.T), pela blemas sociais?
qual se deduzia que o volume de moeda em circulação era o
determinante no nível de preços de uma economia. Isso não quer dizer que os bancos centrais devem car
imunes a críticas. Podem tomar decisões equivocadas
Seja como for, os bancos centrais mantêm nas mãos uma porque seus dirigentes são seres humanos que não têm
poderosa ferramenta, que é a taxa básica de juros. Como bola de cristal e estão sujeitos a erros. As críticas con-
os bancos centrais podem, em tese, comprar e vender tribuem para dar às autoridades monetárias a necessária
ativos nanceiros, sem limites, têm o poder de arbitrar dose de humildade de que precisam para aceitar e corri-
essas taxas. Chegando até mesmo a caminhar em dire- gir os rumos quando cam aquém ou vão além de onde
ção contrária à que os governos resolvem percorrer na deveriam ir.
execução dos orçamentos, gastando, por exemplo, bem
mais do que deveriam.
As taxas básicas de juros não são determinantes de tudo “
o que acontece nas economias. Porém, sem dúvida, in-
uenciam fortemente uxos de capitais, decisões de in- Sem autonomia, os bancos centrais
vestimentos, formação de estoques. E, o que talvez seja
mais relevante, as expectativas em relação ao futuro, não conquistam su ciente
imediato e de longo prazo. credibilidade, necessária para que
suas iniciativas tragam resultados
É justo conceder esse poder quase divino aos bancos
centrais? Com algumas travas, certamente que sim, mais rápidos sobre as expectativas dos
como tem demonstrado a experiência internacional. agentes econômicos
Os seus dirigentes geralmente têm mandatos de nidos,
”
com tempo para terminar. Esse poder quase divino é
Nº 155 - Abril, Maio e Junho de 2023 7