Page 86 - RBCE130
P. 86

Infraestrutura



          Em tais circunstâncias, as perspectivas para os ne-  SISTEMA DE COMPANHIAS DOCAS -
          gócios portuários públicos não são nada promisso-   REVISÃO DE PAPÉIS
          ras, apesar das inegáveis vantagens de localização/
          hinterlândia que apresenta o porto público. Seus    As sete Companhias Docas vinculadas à SEP  em-
                                                                                                          13
          custos superiores em relação aos terminais privados   pregam por volta de 4 mil funcionários, diretamente
          desregulados poderão afetar diretamente a competi-  contratados e um número equivalente em serviços
          tividade e a sua expansão a longo prazo. Se nada mu-  terceirizados. Os resultados econômicos anuais têm
          dar, notadamente no regime de contratação de mão    sido aquém das expectativas, em um cenário de forte
          de obra avulsa e nas condições do acesso terrestre e   crescimento histórico da movimentação de cargas,
          aquaviário, a perda de relevância relativa dos portos   em torno dos 5% a.a. A título de exemplo, no exer-
          públicos no contexto nacional, ainda que permanecen-  cício de 2015 a Codesp, a mais importante das sete
          do na operação a longo prazo, se tornará inevitável. O   Companhias Docas, obteve um resultado negativo
          crescimento mais acentuado na movimentação de car-  de R$ 94 milhões. Tal situação demanda iniciativas
          gas tende a se deslocar para os terminais privados. 12
                                                              de modernização da gestão e a análise das possibili-
          Uma alternativa interessante que merece ser avalia-  dades de alianças com o setor privado, de forma que
          da pode ser encontrada na revisão em curso na legis-  se recoloque tais companhias em patamar condizen-
          lação que regula as outorgas nas telecomunicações.   te com o seu potencial.
          Pelo Projeto de Lei da Câmara n  79, de 2016 : “Art.   O diagnóstico destas companhias é bastante conheci-
                                         o
          68-A. A Agência poderá autorizar, mediante solici-  do, cabendo mencionar dentre outros estudos e levan-
          tação da concessionária, a adaptação do instrumen-  tamentos os elaborados por ocasião do último contra-
          to de concessão para autorização, condicionada à    to de consultoria para a análise da gestão da Codesp,
          observância dos seguintes requisitos...”. Ou seja, va-  da CDRJ e da CDP, o Programa de Melhoria da Ges-
          leria a pena avaliar a introdução de mudança na atu-  tão Portuária (PMGP), com a empresa Deloitte, uma
                o
          al Lei n  12.815/2013 possibilitando que os arrenda-  iniciativa inicialmente coordenada pela Casa Civil da
          mentos de áreas dentro do porto público, asseme-    Presidência da República em 2013, e posteriormente
          lhados atualmente a uma subconcessão, com todas     encampada pela própria SEP. Além do levantamento
          as suas restrições e implicações em termos de custos,   da situação atual, o referido contrato efetuou o levan-
          fossem transformados em autorizações. Com isto, a   tamento de processos e propostas de melhorias dos
          liberdade de contratação de mão de obra passaria a   mesmos. No entanto, a logística externa e a sua arti-
          ser a regra, e as constantes tentativas e ameaças de   culação com outros modais ainda deve ser objeto de
          se tabelar serviços nitidamente de atividade econô-  revisão, bem como uma análise criteriosa dos custos
          mica, como é a movimentação de cargas nos termi-    incorridos e do potencial de otimização de ativos,
          nais arrendados, deixariam de assombrar os opera-   imenso, mas, em boa medida, desconhecido.
          dores–arrendatários privados instalados dentro do
          Porto Organizado. As assimetrias legais existentes  Estas Companhias Docas no passado constituíram
          na operação portuária quando realizada em termi-    parte do Programa Nacional de Desestatização (PND)
                                                                                                      o
          nais privados (fully private ports) ou em terminais pri-  do governo federal e, por meio do Decreto n  6.413, de
          vados instalados em portos públicos (landlord ports)  25 de março de 2008, foram retiradas do programa.
          cessariam, introduzindo um ganho de competitivi-    Com a atual sinalização da delegação a particulares dos
          dade geral no setor, impactando positivamente o     serviços de dragagem, valeria a pena avaliar a oportu-
          comércio exterior brasileiro e a sua competitividade  nidade e a conveniência da retomada deste processo
          no cenário mundial.                                 em um contexto mais amplo de redeinição de papéis,


                                        ............................................................................


          12  A Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços (CDEICS) da Câmara dos Deputados aprovou, em 9 de dezembro de
          2016 , o Projeto de Lei no 3978/2015, que autoriza a criação da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Porto do Açu, instalado no município
          de São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro. Com mais este incentivo, aprofundam-se as vantagens comparativas e assimetrias destes terminais priva-
          dos em relação aos projetos de terminais nos portos públicos (neste caso instalados nos portos públicos do estado do Rio de Janeiro).
          13   Companhia Docas de São Paulo (Codesp), Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), Companhia
          Docas da Bahia (Codeba), Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), Companhia Docas do Ceará (CDC) e Companhia Docas do Pará (CDP).

       74                                                                      Nº  130 -  Janeiro/Fevereiro/Março de 2017
   81   82   83   84   85   86   87   88   89   90   91