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Economia Internacional
Desequilíbrios globais em alta
Otaviano Canuto
é Diretor Executivo no Banco Mundial
Otaviano Canuto
Nos anos que precederam a crise inanceira global, a presença de grandes desequilíbrios em conta-corrente entre
economias sistemicamente relevantes foi objeto de intenso debate quanto a constituírem ameaça à estabilidade da
economia global. O fato de a crise ter ainal se originado a partir do sistema inanceiro nos Estados Unidos (EUA),
estendendo-se posteriormente à Zona do Euro, bem como a atenuação daqueles desequilíbrios nos anos que se se-
guiram, colocaram o tema em segundo plano.
Mais recentemente, sinais de um possível ressurgimento de desequilíbrios crescentes trouxeram de volta a atenção
para a questão. Argumentamos aqui dois pontos. Primeiro, embora não tenha representado ameaça maior para
a estabilidade inanceira global, a ampliação desses desequilíbrios vem revelando um desempenho inferior da
economia global em relação a seu potencial de produto e emprego, ou seja, uma trajetória econômica global pós-
crise subótima. Adicionalmente, a reorientação de política econômica pré-anunciada para o próximo governo dos
EUA sugere a possibilidade de volta de tensão em torno de desequilíbrios em conta-corrente em escala global.
OS DESEQUILÍBRIOS GLOBAIS ESTÃO SUBINDO NOVAMENTE?
Nos últimos cinco anos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vem produzindo um relatório anual sobre a evo-
lução dos desequilíbrios externos globais − superávits e déicits em conta-corrente − e as posições externas líquidas
− estoques de ativos estrangeiros menos passivos − de 29 economias sistemicamente signiicativas. Os resultados
para 2015 mostraram um aumento moderado dos desequilíbrios globais, depois de terem diminuído após a crise
inanceira global (GFC) e se estabilizado no período intermediario (IMF, 2016a) - ver Gráico 1.
Segundo o relatório do FMI, a evolução mais recente dos desequilíbrios reletiu principalmente três fatores:
Em primeiro lugar, a recuperação entre as economias avançadas prosseguiu de forma assimétrica. As recuperações mais
fortes nos EUA e no Reino Unido em relação à Zona do Euro e ao Japão conduziram a divergências nos caminhos
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Todas as opiniões aqui expressas são do autor e não representam as da instituição ou dos governos que o mesmo representa no
Conselho do Banco Mundial.
28 Nº 129 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2016