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RBCE - A revista da




          TABELA 5
          SUPERÁVIT PRIMÁRIO PARA ESTABILIZAR A DÍVIDA

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                                        DBGG (t-1)                 Taxa de juros real          Crescimento do PIB   necessário
                                        (% do PIB)         (% ao ano)         (% ao ano)
                                                                                                (% do PIB)
                 Longo Prazo               70,5               7,0                2,0                3,5

               Atraso no ajuste - 1        80,0               7,0                2,0                4,0
               Atraso no ajuste - 2        90,0               7,0                2,0                4,5

          Obs: Superávit primário para estabilizar a dívida (% ao PIB) = (Taxa de juros real - Taxa de crescimento do PIB) * DBGG(t-1).
          1- Cenário de atraso no ajuste no qual a DBGG alcance 80% do PIB.
          2- Cenário de atraso no ajuste no qual a DBGG alcance 90% do PIB.



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          vida/PIB é de 3,5% do PIB (Tabela 5). No entanto, um  CONCLUSÕES
          atraso no ajuste iscal, que não atenda à necessidade de
          inanciamento público e produza uma elevação da dívi-  O excesso de liquidez internacional, que atualmente suavi-
          da pública para 80% do PIB, aumenta também o supe-  za a assimetria dos resultados iscais e monetários, não pode
          rávit primário necessário para estabilizar a trajetória de  ser considerado fonte permanente de inanciamento, dadas
          endividamento público.                              as incertezas externas atuais (vide a eleição americana).
          Quanto mais o governo demorar em fazer o ajuste is-  É consenso que há um problema estrutural nos gastos
          cal, medida considerada necessária e urgente para frear o  públicos que tende a continuar crescendo ante o PIB
          crescimento da dívida pública e estimular a retomada da  nos próximos anos, principalmente devido à expansão
          economia, maior icará a conta a ser paga por empresas  das despesas com benefícios previdenciários. Há um
          e trabalhadores – ou cortes que terão de ser feitos em  problema também estrutural do lado da arrecadação tri-
          serviços públicos como educação e saúde.            butária, que tende a recuar como proporção do PIB nos
                                                              próximos anos.
          Na situação atual do Brasil, a relação entre a dívida
          pública e o PIB se eleva não apenas devido à diferença  A receita tributária federal deve permanecer fraca, por-
          fortemente positiva entre o juro real e o crescimento do  que a queda da composição do crescimento não será
          produto, mas também devido a um superávit primário   favorável à arrecadação. A maneira mais provável de o
          negativo e elevado.  Isto posto, o ajuste necessário para   Brasil sair da recessão atual é por meio do crescimento
          trazer a relação dívida líquida/PIB a uma condição de  das exportações líquidas – beneiciando-se da mudança
          sustentabilidade de longo prazo  se torna cada  dia mais   de preços relativos. Esta nova fase do crescimento não
          difícil, em função do crescimento da dívida.        será favorável à arrecadação federal, ao contrário do his-
                                                              tórico dos últimos anos, em que o crescimento foi puxa-
          No trabalho antes mencionado, Cysne e Gomes calcu-  do pela demanda doméstica.
          lam  o custo de se atrasar o ajuste iscal, para diferentes
          cenários, trimestre a trimestre, até o prazo de dois anos   O quadro é preocupante, uma vez que o ponto de partida,
          e meio contados a partir de junho de 2016. Tal custo se   ou o resultado primário nos últimos 12 meses (-2,51% do
          mede pela redução do déicit primário adicional àquela   PIB), já é bem inferior às estimativas do resultado primá-
          que precisaria  ser feita, caso o ajuste  tivesse  se dado  em   rio necessário para estabilizar a dívida em longo prazo.
          meados  de 2016.   Dependendo do cenário e se a dívida  Logo, a política monetária, ao manter taxas de juros reais
          considerada é a bruta ou a líquida, o custo do atraso va-  elevadas para alcançar resultados mais rápidos na política
          ria  entre  0,18% e 0,52% do PIB ao ano.  O custo anual  anti-inlacionária, pode esbarrar na inércia de implemen-
          pode ainda se situar acima de 0,52% do PIB se, a partir  tação das reformas como a da previdência, e contribuir
          de meados de 2016, o juro real médio superar 7,5% ao   para o ressurgimento futuro da predominância iscal, caso
          ano, e/ou o produto crescer abaixo de 1,1% ao ano.  a coniança não se restabeleça e a atividade continue fraca.

          Nº  129 -  Outubro/Novembro/Dezembro de 2016                                                     25
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