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RBCE - A revista da





          GRÁFICO  2
          RECEITAS E DESPESAS PRIMÁRIAS DO GOVERNO CENTRAL (ÍNDICE 1997=100)



                                                                          20,2%
                              20
                                                          18,8%  18,8%   19,0%  18,9%   18,9%   18,7%
                                                                       18,5%     18,5%     19,6%
                                                 18,0%   18,1%                         18,0%
                              18                                                           17,7%
                                             17,3%   17,4%                             18,3%
                                                                          18,1%
                                          16,5%
                                                                       17,3%        17,3%
                              16    15,6%                     16,8%  16,9%    16,7%   16,9%
                                                          16,4%     16,2%
                                                 15,9%
                                             15,6%     15,6%
                                14,2%               15,1%
                              14    14,8%  14,6%  14,8%
                                14,0%
                              12
                              10
                                 1997  1998  1999  2000  2001  2002  2003  2004  2005  2006  2007  2008  2009  2010  2011  2012  2013  2014  2015

                                             Receitas Primárias Líquidas (% PIB)   Despesas Primárias (%PIB)
         Fonte: Tesouro Nacional.

                                        ............................................................................


          receitas líquidas de transferências a estados e municí-  TAXA DE JUROS E CRESCIMENTO
          pios, o aumento foi ainda menor, de 3,5 p.p.. Quando   ECONÔMICO
          analisamos o período até 2008 e o período pós-crise,
          é possível notar duas tendências diferentes. De 1997
          a 2008, houve um forte crescimento das receitas, em  Uma maneira simples de avaliar a necessidade de inan-
          ritmo acima do crescimento das despesas, o que tornou   ciamento do setor público com juros é analisando a rela-
          possível a obtenção de resultados primários positivos.   ção entre a taxa de juros e a de crescimento econômico.
          Já no período de 2008 a 2015, houve um forte recuo   Quando a taxa de juros se torna maior que a taxa de cres-
          das receitas, em parte explicado pela atividade econô-  cimento econômico, a necessidade de inanciamento da
          mica fraca e, em parte, como efeito de incentivos iscais   dívida pública aumenta, demandando superávits iscais
          concedidos.                                         primários mais elevados para estabilizar a trajetória da
                                                              dívida pública em relação ao PIB. Caso o crescimento
          Essa queda expressiva das receitas nos últimos anos, em  econômico seja maior que a taxa de juros, a dinâmica da
          ritmo maior ao da retração observada do PIB, nos mos-  dívida pública se torna favorável.
          tra que há espaço para o aumento de receitas, ainda que   De fato, há uma correlação elevada entre a trajetória de
          condicionado a uma recuperação do crescimento econô-  endividamento público, medida pela relação dívida/
          mico. No entanto, enquanto as regras de indexação das  PIB, e a necessidade de inanciamento com juros, medi-
          despesas obrigatórias impõem limites à adequação dos  da pela relação entre a taxa de juros – uma proxy para o
          gastos totais a mudanças nos ciclos econômicos, as recei-  custo médio com o serviço da dívida pública – e a taxa de
          tas primárias não podem crescer indeinidamente acima   crescimento do PIB. Quando o custo da dívida aumenta
          do PIB, especialmente considerando que diversos estudos   para patamares acima da taxa de crescimento do PIB, caso
          apontam que o país possui uma carga tributária já elevada   mantenha-se o resultado primário constante, haverá um
          para os padrões internacionais. Na verdade, para superar   aumento da relação dívida/PIB. Cabe lembrar que parte
          o patamar das despesas primárias observado em 2015  da dívida pública é indexada também ao câmbio, através
          (19,6% do PIB), as receitas líquidas teriam que alcançar   da dívida externa e das operações do Banco Central com
          níveis próximos à máxima histórica de 2010 (20,2% do  swaps cambiais. Flutuações da taxa de câmbio produzem
          PIB), ano em que a economia do país apresentou a maior  efeitos não apenas no estoque da dívida em moeda local,
          taxa de crescimento do período Real.                como também no seu custo de inanciamento.

          Nº  129 -  Outubro/Novembro/Dezembro de 2016                                                     21
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