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RBCE - A revista da
nas contas correntes, caracterizando um balanço de pa- va entre as importações e a FBCF. As duas séries estão
gamentos próximo do equilíbrio (Gráico 3). superpostas no Gráico 4, e um teste de causalidade
mostra claramente que é a FBCF que causa (no sentido
Nos 12 meses encerrados ao inal de 2014 o déicit nas de Granger) as importações, e não o contrário. A con-
contas correntes acumulava US$104 bilhões, valor quase sequência da retomada do crescimento será a queda dos
igual ao da conta inanceira e de capital que, deduzidos os superávits comerciais e o aumento do déicit nas contas
US$71 bilhões dos investimentos diretos, resultaram no correntes. Mas a previsão é que este não é um resultado
ingresso de US$39 bilhões em portfólio. Uma situação para o futuro próximo, devendo icar apenas para 2018.
completamente diferente da atual, na qual a conta corren-
te e os ingressos de capitais se situam próximos de US$20 Quais são as perspectivas para a taxa cambial? Como o
bilhões, com uma saída em portfólio de perto de US$15 BCB não vem comprando nem vendendo dólares no
bilhões (ou US$30 bilhões na média anualizada desde o mercado à vista, há um contínuo equilíbrio no balanço
início do ano). Até este momento não assistimos ao espe- de pagamentos, e para aferirmos a direção na qual o real
rado ingresso de capitais que levaria o real à apreciação e, poderá se mover temos que olhar tanto para as contas cor-
diante das perspectivas de risco e de baixa contribuição rentes quanto para o total de ingressos de capitais. Nos
das relações de troca, no cenário mais provável o governo últimos meses assistimos a uma pequena recuperação das
(e o BCB) enfrentam um câmbio mais fraco. relações de troca, que tende a favorecer melhores superá-
vits comerciais e menores déicits nas contas correntes, e
A retomada do crescimento virá de um aumento lento uma força atuando na mesma direção é a queda dos in-
e gradual da formação bruta de capital ixo (FBCF), e, vestimentos em capital ixo, derrubando ainda mais as
quando isto ocorrer, os déicits nas contas correntes de- importações. Com isso, por algum tempo ainda vamos
verão voltar a aumentar. A razão é simples: no Brasil as assistir a baixos déicits nas contas correntes. Do outro
poupanças domésticas são insuicientes para inanciar os lado estão os ingressos líquidos nas contas inanceira e de
investimentos, e por isso o país é dependente da absor- capitais, cuja intensidade vem sendo reduzida pelas saídas
ção de poupanças externas. Uma forma de observarmos em portfólio de renda ixa. A interação entre estas duas
esta dependência é através da elevada correlação positi- forças é que deve determinar a trajetória da taxa cambial.
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GRÁFICO 4
IMPORTAÇÕES E FBCF
200 320
Índice
180 280
160 240
Índice
140 200
120 160
100 120
Séries dessazonalizadas
80 80
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
FBCF (E) Importação (D)
Nº 129 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2016 15