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Macroeconomia Brasileira
o aumento do hiato negativo do PIB vem elevando o CÂMBIO, FLUXOS DE CAPITAIS E
custo marginal do PIB atual abaixo do potencial. CONTAS CORRENTES
As taxas de inlação projetadas (pesquisa Focus) para
2018 em diante estão irmemente presas à meta de 4,5% No curto prazo o câmbio é fortemente inluenciado
ao ano, e a taxa esperada para 2017 já caiu de 6% ao ano, pelos luxos de capitais. Mas este efeito é momentâneo.
no início de 2016, para menos de 5% ao ano. Lembremos Como mostraremos em seguida, nos últimos 12 me-
que o ano de 2015 fechou com uma inlação de 10,7% e ses tem havido uma signiicativa saída de capitais em
que deveremos fechar o ano de 2016 com uma inlação portfólio (particularmente renda ixa) o que, tudo o
de 6,7%, com forte tendência de queda. Estes dados in- mais constante, deveria estar produzindo uma depre-
dicam claramente que o custo marginal da inlação fora ciação do real. E no entanto desde o início de 2016 o
da meta vem caindo acentuadamente. Em contraposição real valorizou-se. A razão está no forte encolhimento
o hiato negativo do PIB ainda vem se alargando. Como do déicit em contas correntes, que reduz a demanda
foi exposto acima, há uma forte queda do PIB potencial, de dólares em uma intensidade suiciente para cobrir
que vem das contribuições negativas do estoque de ca- o efeito do aumento das saídas em portfólio. O que
pital e da produtividade total dos fatores, mas devido determina a taxa cambial é o total de todos os luxos,
à queda da demanda doméstica vem ocorrendo uma quer nas contas inanceira e de capitais, quer nas con-
queda ainda maior do PIB atual, o que tem aumentado tas correntes.
ainda mais o hiato negativo do PIB, que é fortemente Uma realidade empírica bastante conhecida, no Bra-
desinlacionário. Ou seja, o custo marginal do PIB atual sil, é a relativa constância no tempo dos investimentos
abaixo do potencial é muito alto e tende acrescer. Com
isso a única atitude racional do BCB é acelerar a queda diretos, que oscilam em torno de US$65 bilhões/ano.
da taxa de juros, o que lentamente deverá começar a al- Com o BCB ausente do mercado à vista de câmbio nos
terar o atual quadro recessivo. No entanto as defasagens últimos anos o balanço de pagamentos gravita em tor-
da política monetária são longas, e atualmente há um no do equilíbrio, com os ingressos líquidos nas contas
canal de transmissão da política monetária – o canal do inanceiras e de capitais praticamente iguais aos saldos
crédito – que está bastante obstruído.
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GRÁFICO 3
CONTAS CORRENTES, CONTA FINANCEIRA E DE CAPITAIS E SALDO NO BALANÇO DE
PAGAMENTOS
180
160
140
120
100
US$ Bilhões 80
60
40
20
0
-20
-40
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Acumulado em 12 meses
Balança de Pagamentos Dé cit em Transações Correntes
Conta Capital + Conta Financeira Erros e Omissões
14 Nº 129 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2016