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RBCE - A revista da
A COP é uma espécie de esforço concentrado, que atrai os equipamentos conceituais e intelectuais necessários
atores muito diferentes. Você tem os governos, você tem para serem produtivos nesse novo ambiente. Caso con-
uma participação grande de ONGs. Também, algumas trário, teremos práticas ambientalmente sustentáveis ao
empresas entenderam que é uma oportunidade para custo de profunda disrupção social.
apresentar seus produtos, suas soluções.
Essa é a metamorfose do ESG sobre a qual eu falo.
Em que a gente deveria se concentrar? Primeiro, não ter
muitas ilusões de que dali sairá um acordo que vá mudar Será necessário algo como um treinamento de massa?
o mundo. Segundo, aproveitar a intensidade do foco de
atenção e usar esses dias como uma espécie de showroom, Marcos Troyjo | Eu acho que sim. Fala-se muito de uma
em que fossem exibidas as soluções em sustentabilidade oposição entre inteligência arti cial e humanos, mas o
que o Brasil tem a oferecer. O país tem boas práticas e embate será entre humanos que estão equipados com as
ferramentas básicas de IA e os humanos que não estão.
muitas delas podem ser utilizadas em outras realidades.
No caso do Brasil, essa questão da onipresença das tec-
Em terceiro lugar, acolher as oportunidades para inves- nologias precisa estar no mapa de todos os serviços de
timentos e parcerias. O Brasil precisa muito de aporte
em áreas como irrigação, armazenagem sustentável, aprendizagem — da indústria, do comércio, da agricul-
tura e do transporte. Ter uma boa política de ESG sig-
energia fotovoltaica, energia eólica, transporte uvial e ni ca treinar as pessoas para esse universo intensivo em
mobilidade urbana sustentável. O Brasil precisa de tudo tecnologia, de modo que o “S” não seja uma fonte de
isso, então, a gente precisa estar bastante aberto. instabilidade, disrupção e exclusão.
O senhor já disse que o conceito de ESG (ambiental, Sobre o “G”, acrescento que, cada vez mais, se prestará
social e governança) está em transformação. ue me- atenção na forma como as empresas estão sendo adminis-
tamorfose é essa? tradas; como se relacionam com os investidores; se têm
Conselho de Administração; se têm Conselho Consul-
Marcos Troyjo | Veja, a primeira conferência da ONU
sobre meio ambiente e desenvolvimento foi em 1972. tivo. A governança passa a ser um diferencial importante
Então, essa é uma agenda que tem mais de 50 anos. para a obtenção de recursos voltados à sustentabilidade.
Falando em governança, como ca a pretensão do
De lá para cá, foi aumentando a família de tratados
multilaterais com foco em meio ambiente. Daí resulta Brasil em se tornar membro da OCDE (Organização
o conceito de ESG, que diz respeito a boas práticas am- para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)?
bientais, sociais e de governança. Tenho a impressão de Marcos Troyjo | Acho que ingressar na OCDE faz mui-
que a dimensão das letras é disforme, com o “S” e o “G” to sentido para nós, porque a Organização é uma espé-
muito menores do que a preocupação ambiental. cie de fábrica de boas práticas e, portanto, é melhor você
estar na fábrica e ser coautor daquilo que vai ser produ-
Recentemente, porém, tenho percebido a preocupação zido do que ser simplesmente um receptor passivo.
dos investidores com o “S” e o “G”. Ocorre que existe,
hoje, toda uma força de trabalho orientada para o com- Outro aspecto é o seguinte: se você faz parte da OCDE,
bustível fóssil. E aí, quando você faz a transição (da você se credencia a receber investimentos que não esta-
matriz), você não necessariamente treina e retreina essa vam disponíveis anteriormente. Você acessa determina-
mão de obra para ser competitiva. dos fundos institucionais que condicionam a alocação
de recursos a países que adotam as práticas da OCDE.
Portanto, existe um “S” absolutamente relevante, que são
os aspectos sociais da transição energética. Há, também, E um terceiro aspecto, mais estratégico: se o Brasil se
a questão dos aspectos sociais da transição econômica. tornar membro da OCDE, ele será o único país do mun-
Por exemplo, se você tem a passagem de uma agricultura do a ser, também, membro dos BRICS (grupo de países
com uso intensivo de mão de obra para uma agricultura emergentes) e do G20 (maiores economias do mundo),
com uso intensivo de tecnologia, isso demandará outro ou seja, jogará um xadrez tridimensional nesses impor-
tipo de pro ssional, com outro tipo de capacitação. tantes tabuleiros.
E, nalmente, temos a onipresença da inteligência ar-
ti cial, da robótica, das tecnologias preditivas. Precisa-
mos fazer o máximo para que nossos talentos tenham
Nº 163 - Abril, Maio e Junho de 2025 7