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RBCE - A revista da



                                                              de concentração de renda. Se, por um lado, procura-se
                                                              orientar os gastos públicos para favorecer os mais neces-
                                                              sitados, por outro esse esforço acaba sendo anulado por
                                                              essa transmissão de juros para quem poupa mais, para
                                                              quem está mais capitalizado.

                                                              Nessa administração de cobertor curto, não há mesmo
                                                              outra saída que não a de atacar a questão  scal. Não se
                                                              trata mais de zerar o dé cit primário. Mesmo um supe-
                                                              rávit primário equivalente a 0,5% do Produto Interno
                                                              Bruto (PIB) já poderia desarmar apostas negativas, per-
                                                              mitindo que o câmbio oscile em patamar que favoreça
                                                              uma redução das taxas básicas de juros e, em consequ-
                                                              ência, possibilite uma diminuição relativa do dé cit pú-
                                                              blico nominal e a estabilização do endividamento. Esse
                                                              deveria ser o desejo de todos nós para uma economia
                                                              mais tranquila em 2025.









          A  utuação do câmbio se deve majoritariamente a mo-
          vimentos especulativos, em face das características desse
          mercado no Brasil, mais baseado em negócios futuros
          do que no  uxo imediato de entradas e saídas de moe-
          das. As apostas em favor da economia brasileira esmo-
          receram, sem que na vida real haja muitos motivos para
          tal. O Brasil exporta mais petróleo do que consome
          internamente, possui um agronegócio pujante e, com
          poucas exceções, não tem forte dependência de forne-
          cimentos do exterior (a exceção talvez seja a dos ferti-
          lizantes, o que também tende a ser atenuado dentro de
          algum tempo).
          A desvalorização do real impulsiona exportações, mas
          encarece importações e outros serviços. O câmbio é his-
          toricamente fator de pressão in acionária no Brasil. O
          automáticos – sobrevivem aqui, de modo que para neu- “     Se, por um lado, procura-se orientar
          país ainda luta para se livrar de uma longa herança in a-
          cionária. Vários mecanismos de indexação – até mesmo

          tralizá-los precisamos de índices de in ação mensais e     os gastos públicos para favorecer os
          anuais baixos, por volta de 3% ao ano, se possível.          mais necessitados, por outro esse

          Para tal, o Banco Central tem sido obrigado a recorrer    esforço acaba sendo anulado por essa
          a taxas básicas de juros que agravam o problema do dé-       transmissão de juros para quem
           cit público. A conta de juros responde por quase toda      poupa mais, para quem está mais
          a totalidade (90%, no mínimo) do nosso dé cit nomi-
          nal. Além de inviabilizar investimentos que podem au-                  capitalizado
          mentar a capacidade de produção e tornar a economia
                                                                                                            ”
          mais produtiva, tais juros se transformam em um canal


          Nº 161 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2024                                                      11
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