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Comentário Internacional
A economia e o cobertor curto
George Vidor
é jornalista e economista
George Vidor
Os principais objetivos de política econômica geralmente são con itantes. Crescimento mais acelerado, com menos
in ação e ainda equilíbrio nas contas externas simultaneamente é algo que depende da conjunção de muitos fatores
favoráveis. No entanto, é o que se busca no decorrer do tempo para que as condições de vida da grande maioria das
pessoas possam melhorar.
Grande parte dos economistas formadores de opinião no Brasil acredita, com boa dose de razão, que os objetivos de
política econômica aqui citados apenas poderão ser atingidos se for equacionada a questão scal. Ou seja, o dé cit
público nominal precisa diminuir signi cativamente para que o aumento da dívida pública seja estancado ou a ro-
lagem do endividamento se torne sustentável no futuro relativamente próximo.
A dívida pública cresceu muito nas principais economias nas três últimas décadas. Nos Estados Unidos e na China
atingiram patamares que deixariam qualquer outra economia na alça de mira. Tal crescimento se deve à facilidade
de nanciamento dessas dívidas. Parcela expressiva da riqueza global está acumulada em ativos mobiliários geridos
por dezenas de milhares de fundos, dos mais diferentes portes, que correm atrás de rentabilidade, alimentando mo-
vimentos especulativos perturbadores para economias como a nossa.
A facilidade da rolagem leva governantes a empurrarem a questão da dívida para frente. Só se preocupam com o
endividamento quando as amortizações e o serviço (juros) efetivamente envolvem desembolsos e comprometem os
demais gastos orçamentários.
No caso brasileiro, as reações dos mercados diante do real e da curva de juros indicam que estamos próximos a uma
situação limite. Como não dá para esticar muito a corda pelo lado da receita, de fato é necessário agir para se conter
o aumento preocupante das despesas.
Entre as medidas que o governo brasileiro tem anunciado, algumas são palpáveis (como, por exemplo, a trava para o
aumento real do salário-mínimo) e outras entram no rol daquelas que é preciso “ver para crer”.
Embora a economia brasileira venha demandando mais importações, as projeções para o saldo da balança comercial
continuam apontando para valores bem elevados, e capazes de manter as necessidades de nanciamento externo em
parâmetros compatíveis com o uxo de capitais direcionados para investimentos de médio e longo prazo no país.
10 Nº 161 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2024