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Desa os 2023 - 2024








             Combinando política industrial e comercial:


             semicondutores e o Brasil















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                                                               é diretor do FGV NPII Núcleo de Prospecção e Inteligência
              Renato Galvão
                Flôres Jr.                                               Internacional, Rio de Janeiro, Brasil



          A retórica atual, quando menciona oportunidades e desenvolvimento para o nosso setor produtivo, foca basicamente
          no competitivo agronegócio e desdobramentos afetos, estendendo-se aos produtos da economia verde e sustentável.

          Sem nada contra tais objetivos, absolutamente razoáveis, causa todavia certo desconforto a pouca atenção dada a
          setores industriais importantes, seja sob o ponto de vista de galgarmos patamares tecnológicos signi cativos, seja
          como motores complementares do nosso crescimento.

          O complexo dos semicondutores – ou chips – é área que deveria merecer maior atenção.

          Advindos da evolução dos circuitos integrados, acoplada a forte miniaturização, os chips são hoje peça crucial de
          grande parte dos manufaturados. Presentes na variada gama de eletrodomésticos modernos, nos automóveis, nos
          smartphones e em todo produto ou equipamento que dependa de memória ou funções especí cas, mesmo limitadas,
          são a alma e o coração dos bens atuais.

          A sua confecção é atividade complexa e so sticada, dividida em quatro grandes etapas: o design do chip, a fabrica-
          ção (nas ditas foundries), a montagem e teste e o empacotamento. Os dois tipos mais produzidos são os chips de
          memória – subdivididos em DRAM, de memória temporária dinâmica, e NAND, ou Flash, de memória longa ou
          de armazenagem – e os lógicos, que processam dados, responsáveis pela múltipla série de aplicações, incluindo as de
          inteligência arti cial (IA). 1

          No início, o design e a fabricação eram executados pela mesma  rma, dando origem às Integrated Device Manufacturers
          (IDMs), cujos exemplos mais famosos talvez sejam as multinacionais norte-americana Intel e a sul-coreana Samsung.

          O aumento da so sticação e, crucialmente da miniaturização dos semicondutores, com dimensões entre os nós – no
          caso dos de ponta – inferiores a 20 nanômetros,  levou à separação das duas etapas, criando as  rmas fabless, sem
                                                     2
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          O autor agradece a Luciano Coutinho por conversas (e almoços) estimulantes, e a Leonid Garnitzky, pela ajuda na elaboração do texto. É inteiramente
          responsável por todo o seu conteúdo, que não implica ninguém mencionado, nem qualquer instituição citada ou a que seja associado.
          1  Os usados especi camente em IA são por vezes designados em uma classe à parte, denominada Application Speci c Integrated Circuit (ASIC).
          2  A distância mínima entre os transistores de um chip (que formam o circuito integrado), ou os seus nós, é a medida usual para quali car o seu nível de
          so sticação tecnológica. É expressa em nanômetros (nm), 1nm equivalendo a 10-9 do metro.  uanto menor essa distância, mais poderoso e so sticado é
          o chip. Informalmente esse valor pode ser chamado (incorretamente) de “tamanho do chip” ou de “nó”.

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