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RBCE - A revista da



          nichos de exportação.  uais? As tabelas 2 a 4 sinalizam  CONCLUSÃO
          um primeiro mercado: os Estados Unidos e destinos asi-
          áticos a quem supriríamos chips mais básicos, enquanto  O processo de desenvolvimento permanece um mistério
          seguem na in ndável corrida de produzir unidades de  sobre o qual abundam soluções e abordagens, enfatizan-
          ponta. Economias europeias poderiam ser incorpora-  do lados ou aspectos de uma realidade multifacetada,
          das. O outro mercado seria o da América do Sul, onde  que permite distintas interpretações. O sucesso do nos-
          nossa posição vantajosa, geográ ca e tecnicamente, aju-  so agronegócio, junto à posição invejável e substancial
          daria a conquistar mercados.                        do país no que toca ao meio-ambiente, foco de atenção
                                                              e pressões internacionais, leva a que os investimentos e
          Ancorar o desenvolvimento industrial na política co-  programas públicos se concentrem excessivamente em
          mercial, como a China fez – e ainda faz, de certa for-  tais assuntos, abrangendo naturalmente também a ques-
          ma – extremamente bem nas primeiras décadas de sua  tão energética.
          abertura, não é um ovo de Colombo, mas estratégia que,
          se bem administrada, pode render frutos substanciais.  É, todavia, grave erro com consequências futuras em
                                                              termos de sérios entraves e dependências a um desen-
          A dimensão comercial pode também, de modo progres-  volvimento harmonioso e minimamente autônomo,
          sivo, realimentar  nanceiramente o setor. É inevitável  desprezar as necessidades do setor industrial. Nesse, a
          todavia o envolvimento de instituições de peso como o  questão dos semicondutores é hoje ponto fulcral. Sem
          BNDES e outros órgãos do governo, além de, simulta-  ilusões vazias de se tornar uma economia de proa nessa
          neamente, a questão de parcerias e atração de produto-  área, urge um esforço programado e bem alicerçado de
          res estrangeiros. Esse esforço obrigará a algo muito fa-  estabelecermos um parque que, sempre conectado a for-
          lado, mas pouco realizado concretamente: esforços de  necedores externos, proporcionará autonomia mínima
          inserção em diversas cadeias de valor que, com o tempo,  e possibilidades de upgrades à indústria como um todo,
          trarão spillo ers positivos a todo o parque industrial.  de forma inserida em cadeias produtivas internacionais
                                                              de maior valor adicionado.
          Tendo em vista o contexto doméstico atual, e a rapi-
          dez com que os requisitos  nanceiros podem crescer, a   Esse esforço há de ser feito.
          política interna poderia ter três eixos. Suportar e incre-
          mentar as fabless, aproveitando o capital humano local e
          criando mecanismos para atração de estrangeiros, com
          uma base de  rmas de design, de so sticação mediana a
          um degrau acima. Nesse aspecto, objetivar aplicações es-
          pecí cas pode ser vantajoso, dando mais ênfase ao setor
          automobilístico, ou de eletrodomésticos variados, por
          exemplo.

          Aumentar o estabelecimento de  rmas das últimas eta-
          pas de fabricação, a saber as de montagem e testes e em-
          pacotamento, menos intensivas em capital de alto custo
          e mais em mão de obra. Essa atividade auxiliaria no esta-  “
          belecimento de diversas cadeias de fornecedores, e uma        Ancorar o desenvolvimento
          maior inserção no complexo mundial.                      industrial na política comercial, como

          Finalmente, manter incentivos à fabricação local de        a China fez – e ainda faz, de certa
          chips de memória, por exemplo, e preparar o terreno         forma – extremamente bem nas
          para, em uma segunda etapa, implantar uma ou algumas       primeiras décadas de sua abertura,
          fundições modernas, mas não necessariamente top, no
          país.                                                       não é um ovo de Colombo, mas
                                                                    estratégia que, se bem administrada,
          As linhas acima são um esboço, e todas requerem apro-
          fundamento, com análises mais apuradas da demanda           pode render frutos substanciais
                                                                                                            ”
          potencial das exportações correlatas.


          Nº  157 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2023                                                     19
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