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RBCE - A revista da
bém reacender a indústria química, da qual o setor têxtil
é dependente: na ação e na tecelagem são usados quase
duzentos tipos de produtos químicos. Não foi por aca-
so que a indústria química no Brasil minguou à medida
que a indústria têxtil se retraiu, e hoje temos um dé cit
crescente no comércio exterior dos subitens acompa-
nhados pelas estatísticas da Abiquim – a associação que
reúne as empresas químicas e petroquímicas.
O ressurgimento da cultura algodoeira no Brasil se deve
muito ao cerrado brasileiro. Mato Grosso se tornou um
grande produtor e para tal foi preciso vencer grandes de-
sa os tecnológicos. Certa vez um empresário, que atuava
na área com ação simultânea na engenharia e no agrone-
gócio, me confessou que enfrentara mais di culdades no
plantio do algodão no Mato Grosso do que na montagem
Imagem de StockSnap por Pixabay de equipamentos da usina nuclear Angra II. Ou seja, exis-
te muito de tecnologia embutida na cultura do algodão
do cerrado. Uma técnica que se altera e precisa ser adap-
tada às vezes a cada microrregião produtora, com diferen-
ças de alguns quilômetros entre elas. O cerrado está dis-
tante dos principais portos e dos mercados. As ferrovias
para escoamento da produção ainda começam a chegar
O município de Petrópolis chegou a ser o quinto maior (a Norte-Sul, por exemplo, só foi concluída este ano; a
polo têxtil do mundo no século XIX. O pobre municí- Fiol está em início de construção, assim como a extensão
pio de Paracambi, na Baixada Fluminense, abriga o que da estrada de ferro da Rumo a partir de Rondonópolis na
foi outrora a maior fábrica brasileira de produtos têxteis, direção de Lucas do Rio Verde; a Fico deve demorar de
hoje transformada em complexo educacional-cultural. quatro a cinco anos para car pronta). Entretanto, com
Na vila de Biribiri, vizinha à histórica Diamantina, às todos esses desa os o Brasil assumiu a liderança, mesmo
portas de um parque nacional, resiste uma outra dessas que temporária, nas exportações de algodão.
belas instalações.
Não faz muito tempo, no início do Plano Real, o Brasil
Essas indústrias centenárias infelizmente não sobrevive- chegou a importar 1 milhão de toneladas de algodão.
ram. Faliram, uma a uma. Restaram apenas os prédios. Em três décadas a situação se inverteu. Tomara que esse
Não se adaptaram à concorrência dos os sintéticos. Não fenômeno ocorra igualmente na indústria.
tinham layout adequado ao uso de novos maquinários. E
a concorrência da China e do Sudeste da Ásia foi a “pá
1990 e no início do século XXI fecharam as remanescen- “ Será que o espaço que o algodão vem
de cal”. Fora o que chamamos de custo Brasil, que foi in-
suportável para muitas empresas do setor. Na década de
tes, sobrando bem poucas daqueles tempos. O setor têxtil recuperando no mercado não será
brasileiro se concentra hoje em indústrias mais modernas capaz de reacender investimentos nos
e voltadas para nichos de mercados (banho, cama e mesa; setores têxteis brasileiros, nesse
cortinas; tapetes; estamparias). No lugar das antigas fá-
bricas, surgiram inúmeras confecções de roupas. processo de reindustrialização ou
“neoindustrialização” tão almejado?
Mas será que o espaço que o algodão vem recuperando
no mercado não será capaz de reacender investimentos O Brasil tem toda uma cadeia
nos setores têxteis brasileiros, nesse processo de rein- produtiva voltada para a moda, que se
dustrialização ou “neoindustrialização” tão almejado? mantém rme, e até ascendente, seja na
O Brasil tem toda uma cadeia produtiva voltada para a
moda, que se mantém rme, e até ascendente, seja na parte técnica como na parte criativa
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parte técnica como na parte criativa. Será preciso tam-
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