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RBCE - A revista da





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                                                                        competição.

                                                                    •  Mais fundamentalmente, o comportamento das
                                                                        empresas foi progressivamente distorcido, com o
                                                                        acesso ao Estado se tornando mais relevante do que
                                                                        acesso aos mercados.

                                                                    É essencial inverter essa lógica, e garantir uma nova po-
                                                                    lítica industrial, que venha acompanhar a normalização
                                                                    das condições macroeconômicas do país. Qual o cerne
                                                                    da  estratégia? Isonomia das condições de competição
                                                                    para todas as empresas, sem setores ou atores privilegia-
                                                                    dos; e redução material e sustentada dos custos de tran-
                                                                    sação no país. Neste sentido, a reforma do Estado está
                                                                    na base da estratégia, sem a qual uma nova política não
                                                                    se sustenta.

                                                                    Após esta introdução e anterior à conclusão do traba-
                                                                    lho, a segunda seção discute a trajetória da indústria de
                                                                    transformação no país, apontando para um processo de
                Qual foi a resposta de política frente às diiculdades da in-  envelhecimento precoce, e remetendo esse processo à
                dústria brasileira? Pela ausência de um diagnóstico correto   estagnação e/ou contração da produtividade desde os
                das causas da fragilidade da indústria no país, apostou-se  anos 1980, e a consequente perda de competitividade,
                em um ativismo sem estratégia, que aprofundou as diicul-  fruto do protecionismo, do isolamento das empresas e
                dades das empresas.                                 de um ambiente de negócios adverso. A terceira seção
                                                                    documenta as implicações para o desempenho tecnoló-
                Quais as características desse ativismo? A premência  gico e de gestão das empresas no país, resultado de um
                de se fazer algo – com a indústria deinhando – levou   comportamento fundamentalmente defensivo dos ges-
                a se replicar e ampliar o uso dos instrumentos usados  tores, frente a instabilidade da economia, imprevisibili-
                nas últimas décadas: maiores incentivos iscais; volumes   dade do ambiente de negócios, e incapacidade de se pro-
                crescentes de crédito direcionado subsidiado pelo Te-  jetar na arena competitiva. Há evidentemente exceções
                souro; recrudescimento do protecionismo ad-hoc; e di-  relevantes, empresas que, por motivos idiossincráticos,
                recionamento reforçado das compras governamentais,  trilharam um caminho de competência tecnológica e de
                dentre outras iniciativas. A tática de “mais do mesmo”   gestão, que possibilitou uma forte presença em merca-
                foi levada adiante independentemente da ausência de  dos internacionais.
                uma avaliação de impacto desses instrumentos e de uma
                análise custo-benefício com um mínimo de seriedade.   A quarta seção propõe como fundamento de uma nova
                                                                    política industrial uma reforma do Estado. A razão
                O resultado – por conta de erro de diagnóstico e uso  pode ser facilmente apreendida: o Estado impõe pesa-
                inadequado de instrumentos – foi, na melhor das hipó-  dos custos para as empresas, gera um ambiente de ne-
                teses, píio. Na realidade, as políticas de governo foram   gócios adverso por conta da falta de estabilidade (no
                iscalmente desastrosas e contraproducentes.         âmbito macroeconômico), previsibilidade (na esfera
                                                                    regulatória e na relação público-privado) e segurança
                •  O expansionismo iscal na base de maiores subsí-  (particularmente na esfera jurídica) e, ao “compensar”,
                    dios, incentivos e gastos voltados à indústria, apro-  o faz isolando as empresas, desestimulando a competi-
                    fundaram os desequilíbrios macroeconômicos, fra-  ção, e gerando um comportamento defensivo.
                    gilizando as empresas.
                                                                    Um dos corolários mais perversos foi estabelecer um
                •  O protecionismo levou à segmentação dos merca-   gradiente de importância das relações das empresas – a
                    dos, diicultou ainda mais o acesso das empresas  precedência do Estado sobre o mercado. Nesta pers-
                    aos fatores de produção e recursos críticos – pes-  pectiva, a reforma da política industrial se insere numa
                    soas especializadas, conhecimento técnico e de  reforma maior e essencial para o progresso do país: a

                Nº  131 -  Abril/Maio/Junho de 2017                                                              25
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