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Política Industrial
Reforma ou estagnação:
por uma nova política industrial
Cláudio R. Frischtak
é diretor da Inter. B Consultoria Internacional de Negócios
Cláudio R. Frischtak
Desde o início da década, o país vem passando por um processo acelerado de perda de substância da indústria de
transformação. Mesmo considerando ser normal o deslocamento da indústria pelos serviços, a rapidez desse proces-
so implica um fenômeno que poderia se caracterizar como “envelhecimento precoce”. Ainda não está claro por que
a indústria de transformação perdeu substância tão rapidamente, mais além da baixa produtividade, cuja dinâmica
pro-cíclica se agrava numa conjuntura adversa. A hipótese mais plausível é que não há um único fator dominante,
mas sim um conjunto de fatores que freiam os ganhos de competitividade das empresas, elevam seus custos, e dii-
cultam sua posição no mercado doméstico e sua projeção nos mercados internacionais.
Do que padecem as empresas brasileiras?
• No âmbito macroeconômico, as empresas operam em um contexto de desequilíbrio e instabilidade, que se
acentuou após 2011, em grande medida por força de políticas econômicas profundamente equivocadas, que
distorceram os preços fundamentais da economia (juros e câmbio), elevaram o prêmio de risco e, consequente-
mente, o custo de capital das empresas. A gradual volta à normalidade macroeconômica, e de forma consistente,
com um horizonte que vá além de 2018, seria uma condição necessária – mas não suiciente – para travar o
envelhecimento precoce da indústria.
• O ambiente de negócios no país não pode ser caracterizado como amigável, seja com base em métricas geral-
mente aceitas (a exemplo dos indicadores do relatório Doing Business do Banco Mundial), seja pela percepção
generalizada das empresas que operam no país. Estas ecoam de forma recorrente a complexidade da burocracia,
a inoperância do Estado e a onerosidade das regras (tributárias, trabalhistas, dentre outras); em síntese, os ele-
vados custos de ‘transação.
• O isolamento alige direta e indiretamente grande parte das empresas do país. Isto se relete na diiculdade de acesso
a mercados, recursos e fatores, inclusive pelas barreiras que se interpõem aos luxos globais de conhecimento sobre
mercados e tecnologias. Apenas a título de ilustração, há cunhas tributárias e administrativas que aumentam o custo
e desestimulam a importação de tecnologia, e a vinda de técnicos e proissionais estrangeiros.
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* Este artigo foi apresentado no XXIX Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos.
# O autor contou com a assistência de João Mourão e Julia Noronha.
24 Nº 131 - Abril/Maio/Junho de 2017