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RBCE - A revista da
GRÁFICO 2 Clinton. O Brasil, por sua vez, vislumbrava capitalizar
EXPORTAÇÕES DO BRASIL PARA A CHINA sobre o boom econômico chinês, ampliando as expor-
(US$ BILHÕES) tações e beneficiando-se do crescente apetite chinês por
recursos naturais essenciais, como minério de ferro de
alta qualidade, petróleo e produtos agrícolas.
Trata-se da primeira relação dessa natureza estabelecida
pela China, antecedendo acordos com outras nações
como França, Reino Unido, Bolívia e Argentina. O es-
tabelecimento dessa aliança estratégica demonstrou um
reconhecimento recíproco do vasto potencial para uma
colaboração extensa e duradoura. Com a intenção de-
clarada de intensificar e elevar o nível das relações bilate-
rais, a Parceria Estratégica englobou uma gama diversi-
ficada de setores, destacando-se a continuidade do pro-
jeto CBERS e a amplificação dos vínculos comerciais.
Conforme o professor Hao Su, da China Foreign Affairs
University, a essência da Parceria Estratégica sino-brasi-
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Fonte: Ministério da Economia. leira pode ser compreendida por meio de quatro pilares:
Elaboração: CEBC (2023).
............................................................................ (i) a recusa de hostilidade;
(ii) a adesão a premissas alinhadas;
sustentados pela capacidade produtiva do Brasil em
atender à demanda chinesa por commodities, como soja (iii) o impulso para cooperação em interesses compar-
e minério de ferro. Parcerias estratégicas em áreas vitais tilhados; e
como meio ambiente, infraestrutura e colaborações
tecnológicas, exemplificadas pelo projeto CBERS de (iv) a implementação de ações concretas para fortalecer
satélites, são também determinantes. Entretanto, entre os laços bilaterais.
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essas causas, incluímos o caráter profundamente insti- Essa filosofia transformou-se em ação efetiva com a cria-
tucionalizado do relacionamento entre Brasil e China, ção da Cosban em 2004, sob a liderança de Luís Inácio
identificando-o como um dos pilares que sustentam a Lula da Silva e Hu Jintao, solidificando a Parceria Estra-
solidez e o êxito dessa parceria estratégica. tégica como o vértice da diplomacia e cooperação en-
tre os dois países. Trata-se da mais elevada instância de
acompanhamento e implementação da agenda bilateral
A PARCERIA ESTRATÉGICA, entre o Brasil e a China. Durante as reuniões, a Comis-
A COSBAN E OS DIÁLOGOS são seria presidida pelo vice-presidente da República,
GLOBAIS ESTRATÉGICOS pelo lado brasileiro, e por um vice primeiro-ministro do
Conselho de Estado, do lado chinês.
Podemos traçar as origens desse relacionamento insti- Na ocasião, os representantes dos dois países adotaram
tucionalizado a partir do lançamento da Parceria Estra- quatro princípios norteadores para o aprofundamento
tégica, em novembro de 1993, durante a visita do pre- das relações bilaterais:
sidente chinês Jiang Zemin ao Brasil. Esse movimento (i) o fortalecimento da confiança política mútua, asse-
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foi impulsionado pelo contexto pós-Guerra Fria, com a gurada por um diálogo equitativo;
China buscando novas alianças diante das tensões com
os Estados Unidos após o colapso da União Soviética e (ii) a expansão do comércio e investimentos de maneira
das medidas de retaliação adotadas pela administração a gerar benefícios mútuos;
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4 Com relação ao Programa de Satélites, ver CBERS (2018).
5 Para mais detalhes sobre os bastidores do lançamento da Parceria Estratégica, ver Biato Junior (2010).
6 Hao (2009).
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