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RBCE - A revista da
da no Brasil e nos Estados Unidos –, pois terão a possi-
bilidade de serem abastecidos também com gasolina, ou
a combinação dos dois combustíveis.
Toyota e Stellantis (Fiat, Chrysler, Peugeot-Citroen)
anunciaram vultosos investimentos para adaptar suas
linhas de produção no Brasil, com resultados que come-
çarão a aparecer em 2025 e 2026. Tudo indica que as
demais montadoras seguirão por esse mesmo caminho.
Ouso dizer que a maioria dos carros produzidos no Bra-
sil no m desta década será de veículos híbridos, man-
tendo a indústria brasileira em um patamar de 3 milhões
de unidades anuais, ou seja, entre as dez nações que mais
fabricam veículos.
A substituição da frota a combustão por motores pura-
Imagem de Bu k por Pixabay mente elétricos exigiria uma forte ampliação do parque
térmico brasileiro, sujando a matriz brasileira de gera-
ção de eletricidade, atualmente com 84% da carga de
consumo atendida for fontes renováveis e/ou limpas,
de baixo impacto ambiental. A produção brasileira de
etanol poderá crescer, e muito, assim como a dos demais
biocombustíveis e do futuro hidrogênio verde. Um im-
Não parece haver dúvidas de que o comércio exterior é pulso a mais para o agronegócio, que tem a possibili-
bem mais do que um complemento. Já é, e será ainda dade de incorporar 4,5 milhões de hectares ao ano de
mais, um dos principais vetores de crescimento da eco- áreas degradadas por pastos mal utilizados (ou seja, sem
nomia brasileira, especialmente quando associado ao necessidade de desmatamento). No esteio dessa expan-
nosso mercado interno. Exemplo disso é a virada tão são, precisaremos de mais infraestrutura de transporte
aguardada na indústria automobilística. A descarboni- (ferrovias, rodovias, terminais) e armazenamento.
zação não é hoje uma agenda restrita a ambientalistas.
Trata-se de uma agenda global, urgente, em face das mu- Vetores e alavancas de crescimento não faltam para a
danças climáticas. E por exigências dos mercados. Até economia brasileira. Há muitos outros desa os a serem
por instinto de sobrevivência, a questão da sustentabili- enfrentados, mas isso é outra questão, e, por enquanto,
dade entrou em de nitivo para os aspectos mais impor- camos por aqui.
tantes nas decisões de investimento. Há racionalidade
econômica em tudo isso; não se trata de romantismo
No caso da indústria automobilística, o melhor custo- “ A produção brasileira de etanol
por um mundo ideal.
-benefício para o Brasil está na fabricação de veículos hí- poderá crescer, e muito, assim como
bridos, nos quais os motores a combustão possam utili- a dos demais biocombustíveis e do
zar o etanol. Na equação que calcula o total de emissões
de carbono na cadeia produtiva e no consumo, os veí- futuro hidrogênio verde. Um impulso
culos híbridos com utilização de etanol apresentam me- a mais para o agronegócio, que tem
lhores resultados que os carros puramente com motores a possibilidade de incorporar 4,5
elétricos. E a um custo competitivo com os automóveis
movidos com motores somente a combustão. Graças à milhões de hectares ao ano de áreas
tecnologia dos motores ex, que as montadoras brasilei- degradadas por pastos mal utilizados
ras dominam, esses veículos híbridos poderão atender a (ou seja, sem necessidade de
outros mercados, especialmente os da América Latina, desmatamento)
sem que se sintam vulneráveis diante da necessidade de
”
importação e de etanol – cuja produção está concentra-
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