Page 22 - RBCE 163
P. 22
Momento Atual
ANÁLISE SWOT DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO CONTINUAÇÃO
Oportunidades Ameaças
Redesenho das cadeias globais (nearshoring) Crescente competição asiática
Barreiras não tarifárias e regulamentações
Valorização de produtos sustentáveis e verdes
ESG
Acordos bilaterais e regionais Riscos climáticos e cambiais
............................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS à luz de uma conjuntura que valoriza capacidades inter-
nas, autonomia decisória e resiliência sistêmica.
O cenário internacional contemporâneo evidencia um
deslocamento geoeconômico em curso, com implica- Assim, soberania, competitividade e diplomacia econô-
ções signi cativas para a inserção do Brasil em cadeias mica devem ser concebidas como dimensões indissociá-
produtivas mais curtas e regionalizadas, especialmente veis de um mesmo projeto nacional de desenvolvimento,
no contexto latino-americano. Para que o país converta apto a responder aos novos contornos da nova ordem
suas vantagens comparativas em vantagens competitivas global em formação. O Brasil dispõe de ativos relevantes
duradouras, torna-se imprescindível a formulação de — escala, diversidade produtiva, base industrial, recur-
uma estratégia nacional voltada à agregação de valor, ao sos naturais e mercado interno —, mas precisará de vi-
fortalecimento da política industrial orientada à expor- são estratégica e coordenação institucional para conver-
tação e à celebração de acordos comerciais pautados por tê-los em instrumentos de protagonismo internacional.
racionalidade estratégica, em substituição a posturas
meramente defensivas ou protecionistas.
A recente in exão da política comercial norte-america-
na, simbolizada pelo denominado “Liberty Day”, sina-
liza não apenas um recrudescimento do protecionismo,
mas também o enfraquecimento do arcabouço liberal
que, desde o m da Segunda Guerra Mundial, estruturou
a ordem econômica internacional. O Liberty Day repre-
senta uma ruptura com a ordem econômica mundial e o
sistema multilateral de comércio iniciado com os acor-
dos de Bretton Woods (1944), cujas forças dominantes
são a globalização, o liberalismo, a redução do papel
do estado e o livre comércio. Tal modelo, contudo, re-
vela claros sinais de esgotamento diante dos desa os
contemporâneos relacionados à segurança das cadeias
produtivas, à concentração tecnológica, à instabilidade
geopolítica e à rede nição dos interesses estratégicos das
grandes potências.
Nesse novo contexto, observa-se a emergência de uma
ordem internacional menos orientada por princípios
de e ciência econômica e mais condicionada por im-
perativos de soberania, segurança nacional e poder. A
interdependência global, outrora vista como vetor de
estabilidade e prosperidade, passa a ser reinterpretada
como fator de vulnerabilidade e risco. Diante disso, a
formulação de uma estratégia brasileira de inserção in-
ternacional requer um reposicionamento conceitual:
não se trata apenas de ampliar mercados ou elevar o vo-
lume exportado, mas de rede nir prioridades nacionais
14 Nº 163 - Abril, Maio e Junho de 2025