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RBCE - A revista da



          As transformações da nova economia global criam outros
          tipos de vulnerabilidade, em consequência da ênfase em   “    Na área do comércio exterior, a
          políticas  industriais  nos  países  desenvolvidos  e  crescen-
          tes restrições externas, para garantir autonomia soberana   conclusão do acordo com a UE, a
          em  virtude  das  mudanças  geopolíticas,  bem  como  para   abertura de entendimentos para
          atender as novas prioridades de políticas ambientais, tais   ampliar o escopo dos limitados
          como  as  medidas  tomadas  na  Europa  para  eliminar  as
          importações de produtos agrícolas provenientes de áreas     acordos mantidos com o México, a
          desmatadas, e as taxas de carbono (CBAN).                  expansão do intercâmbio comercial
                                                                     com a Índia e com os países asiáticos
          A legislação brasileira de defesa comercial tem um cará-
          ter defensivo e existe há muitos anos. As novas circuns-     são providências de curto prazo
          tâncias do cenário internacional e a perspectiva de uma
          escalada na aplicação de medidas restritivas generaliza-                                           ”
          das demandam uma legislação adicional e atualizada,
          para evitar prejuízo aos interesses do governo e do setor
          privado. A legislação da UE contra eventuais medidas
          restritivas unilaterais poderia ser adaptada às circuns-
          tâncias e características do agro e da indústria nacionais.  nomia do setor das commodities agrícolas, minerais e ener-
                                                              géticas.  Dado  o  potencial  de  crescimento  do  comércio
          A crescente perda de importância do setor industrial,  exterior  em  função  do  dinamismo  do  agronegócio  e  da
          em termos de PIB (que chegou a ser 28% do PIB e que   recuperação  gradual  da  competitividade  industrial,  caso
          agora, na indústria de transformação, pouco passa de  as vulnerabilidades sejam reduzidas, será possível colocar
          10%) fez cair o nível de investimento interno e as im-  como  meta  de  US$  1  trilhão  nos  próximos  cinco  anos,
          portações se reduziram signi cativamente (11%). A   com a coordenação entre governo e setor privado, depen-
          participação de produtos manufaturados brasileiros no   dendo da evolução do incerto cenário internacional.
          mercado internacional está pouco acima de 0,5%.

          Vulnerabilidade adicional da área externa é a ausência de
          um instrumento de  nanciamento das exportações. Como   CONCLUSÃO
          todos os principais países, urge a criação de um Eximbank
          para  apoiar  uma  política  de  ampliação  dos  mercados  na  Tendo como pano de fundo a incerteza do cenário inter-
          América Latina e na África, inclusive com a criação de ca-  nacional, agravada com as ameaças e medidas tomadas
          deias  regionais  de  produção  de  valor  e  com  o  necessário  por Donald Trump, o Brasil não tem alternativa senão
          respaldo para os produtos da indústria de defesa.   aproveitar suas vantagens competitivas e procurar mini-
                                                              mizar suas limitações de vulnerabilidades.
          O governo divulgou as linhas gerais de um programa
          de política industrial – Nova Indústria Brasileira (NIB)  Na área do comércio exterior, a conclusão do acordo
          – para fortalecer o setor e torná-lo mais competitivo  com a UE, a abertura de entendimentos para ampliar o
          no mercado externo. Com metas até 2033, o plano dá  escopo dos limitados acordos mantidos com o México,
          grande ênfase ao papel do governo, como estão fazen-  a expansão do intercâmbio comercial com a Índia e com
          do os EUA e países europeus. Subsídios e conteúdo lo-  os países asiáticos são providências de curto prazo.
          cal aparecem ao lado de incentivos, linhas de crédito e
          compras governamentais em seis setores, entre os quais  As  negociações  de  acordos  comerciais  com  os  demais
          saúde, defesa, infraestrutura, saneamento e mobilidade.   parceiros  do  Mercosul  devem  ser  vistas  como  uma  ma-
          Transformação digital da indústria, bioeconomia, des-  neira e ciente de reduzir as tarifas e abrir a economia em
          carbonização e transição energética são prioridades para  função das diferentes etapas de redução tarifária. Gover-
          a modernização do setor. Resta ver como os objetivos e  no e setor privado terão de enfrentar o desa o de assumir
          os prazos serão cumpridos, e o grau de transformação  uma atitude proativa no tocante à integração regional.
          que trará para o setor industrial.
                                                              Uma nova estratégia de negociações comerciais bilaterais
          Com  maior  valor  agregado,  o  aumento  das  exportações  (acordos na região e fora dela), regionais (Mercosul e me-
          dos produtos industriais reduziria a dependência da eco-  lhor  aproveitamento  da  Área  de  Livre  Comércio criada


          Nº  162 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2025                                                       15
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