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Editorial





          Ganhos de comércio, política comercial e traders











         No futuro, os historiadores irão analisar o segundo semestre de 2024 e caracterizar esse período de escolhas para o
         Brasil face às transformações globais e locais. Aliás, hoje, alguns analistas econômicos já estão fazendo esta análise
         comparando as opções da política econômica atual para podermos continuar a nos bene ciar do crescimento eco-
         nômico, talvez com alguma inclusão social e progressividade tributária.

         Em função das recentes regulações votadas pelo Congresso Nacional e sancionadas pela Presidência da República
         será possível, numa perspectiva de longo prazo, potencializar as oportunidades de transição energética hoje existen-
         tes. Poderemos observar o aumento da oferta e da expansão de fontes brasileiras de energia renovável na matriz ener-
         gética em maior proporção que a expansão das fontes não renováveis – principalmente óleo e gás – fruto da futura
         exploração dos recursos naturais de forma sustentável na margem equatorial na Amazônia. Algumas consultorias
         apontam que nos próximos decênios será possível atrair cerca de um trilhão de dólares de investimento externo para
          nanciar essa expansão da oferta de energia, com efeitos diretos no crescimento econômico brasileiro.

         O fato é que no futuro haverá um aumento do endividamento externo, e para pagar esta dívida, é necessário ter uma
         política de comércio exterior que incentive o aumento da exportação de produtos e serviços, mantendo a atual pauta
         exportadora e inserindo novos itens. Para tanto é imprescindível:

         (a) obter ganhos de produtividade;

         (b) alterar e expandir a curva de possibilidade de produção nacional, que está em processo de transformação digital,
             e de combinação de manufatura aditiva e subtrativa observada ao nível do chão de fábrica;

         (c) escolher e criar inovações nas trajetórias tecnológicas dos setores da indústria de transformação que são inten-
             sivos em energias renováveis, fortemente exportadores, e são ainda hard to abate, para viabilizar a redução das
             emissões de gases, de modo a tornar nossos produtos exportáveis mais green, e, assim atender aos novos requisi-
             tos de sustentabilidade impostos por nossos parceiros comerciais; e
         (d) incentivar a maior presença na composição e na estrutura da pauta de exportação nacional de serviços tradables,
             de novos produtos a serem exportados – desde hidrogênio e novos produtos oriundos da nossa indústria ou
             agricultura – com traços de nossa brasilidade e marca, sendo preferencialmente comercializados e vendidos, no
             exterior, por jovens traders habilitados a operarem tanto no digital e no cross border trade, como participando
             de feiras e trade shows presenciais.

         Infelizmente esse potencial de transformação produtiva e diversi cação econômica não é devidamente aproveitado
         no momento presente. Incorremos em dé cits crescentes nas transações correntes, mesmo em condições de  nan-
         ciar e não ter de ajustar o balanço de pagamentos via alteração nos preços relativos.

         Aliás, a pressão pela desvalorização da taxa de câmbio nominal observada no último bimestre, e cuja análise aponta
         para um patamar de R$ 6,00 por dólar, é fruto do desequilíbrio interno, resultado da simultânea elevação dos gas-
         tos públicos e da dívida pública. A presente volatilidade cambial indica que a relação desse preço com a questão da
         dominância  scal se fará cada vez mais presente no biênio 2025-2026.

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