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Nova Indústria Brasil
plexo de saúde se assenta em três vetores. O primeiro é Essas têm de ter a nalidade de suprir as necessidades
buscar a desburocratização como forma de remoção de dos sistemas de saúde e proporcionarem aos pacientes
obstáculos à inovação; o segundo é incentivar a inova- novas formas de tratamento e diagnóstico. Com efeito, a
ção orientada para a exportação de maneira a reduzir a participação nesse tipo de programa exige também uma
dependência externa. Finalmente, o último vetor é uma adequada preparação na forma de estratégias de interna-
abordagem holística na concepção de soluções inova- cionalização, concebidas de maneira proativa e baseada
doras com enfoque no percurso clínico do paciente em em fundamentação analítica. Tipicamente, o desenho
sistemas de saúde. de um programa de internacionalização de empresas de
dispositivos médicos com o corte aqui proposto bene-
A desburocratização surge como resposta ao quadro re- ciará gradualmente um alinhamento regulatório entre
gulatório global caracterizadamente complexo, o que o plano nacional e o internacional, cabendo às tutelas
incide sobre o setor estratégico de dispositivos médicos. viabilizarem uma abordagem colaborativa e harmoniza-
O apelo da indústria no espaço europeu para que mu- dora com efeito catalisador na inovação.
danças signi cativas sejam introduzidas, relativamente
à implementação de legislação com base na criação de O terceiro vetor é ter uma abordagem holística na con-
uma autoridade especializada e na resolução de ques- cepção de soluções inovadoras, recorrendo à forma como
tões ligadas à sobreposição de regulamentação, re ete um dos sistemas de saúde de maior sucesso no plano glo-
o sintoma de que aspectos regulatórios ainda persistem bal, o NHS, tem implementado uma restruturação que
como barreiras, especialmente no que toca à inovação. visa à captação de propostas que traduzam valor agrega-
Adicionalmente, é primordial que a legislação possa do para o seu sistema integrado, de estímulo à inovação e
conferir também uma clara orientação aos intervenien- ao desenvolvimento tecnológico em resposta a restrições
tes da indústria quanto à pertinência da implementação orçamentais, promovendo sinergias entre organizações,
de sistemas de gestão de qualidade que correspondam a gerando e ciências numa lógica de parcerias estratégicas.
padrões de exigência internacional.
Esse ecossistema tem demonstrado uma apetência por so-
Subsequentemente, o aumento das exportações na in- luções inovadoras que resultem de um entendimento mais
dústria de dispositivos médicos tem um valor estratégi- profundo do percurso clínico do paciente, suscitando uma
co no seu objetivo de diminuição de dependência exter- maior sensibilidade às necessidades de quem vive com certa
na e redução do dé cit comercial excessivo. Iniciativas patologia, em detrimento de soluções individuais.
como o IDAP no Reino Unido e sua eventual tropi-
calização no Brasil representam modelos de referência Em suma, no médio e no longo prazo, a inovação e a ex-
para a implementação de medidas concretas, que vão ao portação da saúde, no Brasil, dependem de uma política
encontro das necessidades práticas dos empreendedores catalisadora que potencie o valor estratégico do setor de
brasileiros no seu processo de concepção de tecnologias dispositivos médicos. Isso requer uma abordagem mul-
e estratégias de internacionalização. tifacetada, alinhada com padrões regulatórios interna-
cionais, baseada na colaboração, promovendo o acesso
universal à saúde por meio da inovação. Por sua vez, no
“ É absolutamente essencial entender curto prazo, faz-se necessário realizar a partir do Brasil
missões empresariais ao Reino Unido compostas por
holisticamente quem são os empresários/empreendedores de dispositivos médicos;
stakeholders no ecossistema, gestores dos hospitais privados e públicos e responsáveis
do SUS para, de um lado, conhecer o sistema britânico
privilegiando estrategicamente as para essa área e, de outro lado, identi car nichos especí-
parcerias, com objetivo de in uenciar cos para estimular a internacionalização das empresas
as lideranças clínicas responsáveis brasileiras, ou, viabilizar que sejam rmados convênios
de cooperação técnica para que médicos e pesquisado-
pela de nição de decisões, assim res lotados nos hospitais públicos ou privados possam
como a geração de con ança e compreender a abordagem de percurso clinico e, assim,
posterior recomendação da incentivar a internacionalização no Brasil das atividades
tecnologia ou inovação das instituições e de suas startups de ciência e tecnologia.
Essas são singelas sugestões para uma missão orientada
” para inovar e exportar dispositivos médicos do Brasil.
72 Nº 158 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2024