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Ambiente de Negócios Internacionais


          Apesar dos habituais desa os, a produção de óleo e gás  maior parte de seu consumo de energia, mas recorre à
          continua pujante nos EUA. Para isso, mostramos o Grá-  oferta importada de gás para compensar os possíveis de-
           co 1, que abrange o período entre 2015 e 2023 e onde  clínios hidrelétricos.
          observamos o aumento ao longo dos últimos anos nas
          exportações de GNL dos reservatórios dos EUA. Vale  Riscos globais ao suprimento energético existem. Uma re-
          destacar o salto de 28.380,528 MMcf (Milhões de pés   tração  nas  exportações  globais  de  GNL,  em  especial  dos
          cúbicos) em 2015 para 4.343.026,674 MMcf em 2023.   EUA,  poderia  apertar  ainda  mais  o  mercado  global  do
                                                              combustível e elevar o preço do gás importado, justo quan-
          Em contrapartida, muitos analistas consideram que a  do a demanda cresce em grande parte do mundo, causados
          demanda global por petróleo está próxima do pico. A  pelo inverno europeu e a seca brasileira. A vitória de Trump
          produção fóssil continua a diminuir na União Europeia,   parece espantar o risco. Por outro lado, para aquecer a dis-
          mesmo com a recuperação da procura.                 puta pelo suprimento, o Brasil intensi ca suas compras de
                                                              GNL e aumenta a pressão sobre o mercado global.
          As energias eólica e solar, indispensáveis após a guerra da
          Ucrânia, atingem novos máximos, alcançando uma quota   Diante de níveis baixíssimos de seus reservatórios hi-
          de 30% da produção de eletricidade da União Europeia e   drelétricos, Brasil precisa se antecipar e garantir mais
          ultrapassando os combustíveis fósseis pela primeira vez.   importações de gás natural para termelétricas no início
                                                              de 2025. Maior economia da América Latina, o Brasil
          O  crescimento  explosivo  de  veículos  elétricos  na  China  e  que normalmente depende principalmente da energia
          na Europa e o crescimento mais lento nos Estados Unidos  hidrelétrica para geração de eletricidade, voltará às com-
          estão começando a afetar a demanda por petróleo, de acor-  pras de GNL no mercado spot.
          do com relatórios da Agência Internacional de Energia.
                                                              Em setembro último, as altas importações de GNL ul-
          A Opep, o consórcio de países produtores de petróleo li-  trapassaram o recorde de 20,87 Bcf de GNL, atingido
          derado pela Arábia Saudita, também reduziu sua previsão   em janeiro de 2022. Com contratos de longo prazo
          de quanto petróleo o mundo precisará no próximo ano.   praticamente garantidos pelos compradores na Ásia e
                                                              Europa, o Brasil precisa estar atento à disponibilidade
          Ainda assim, em todos os cenários, com menor ou maior  da molécula e aos preços mais robustos cobrados para
          grau de descarbonização, a demanda por petróleo e gás  abastecer as termelétricas brasileiras.
          natural permanece.
                                                              Segundo a S&P Global, três das cargas entregues ao
                                                              Brasil em setembro foram importadas para o terminal
          POR  UE A PREOCUPAÇÃO DO                            da Bahia, operado pela Petrobras, enquanto o terminal
                                                              de regasei cação de São Paulo, operado pela Edge, o ter-
          BRASIL?                                             minal de regasei cação de Porto de Açu, operado pela
                                                              GNA, e a instalação operada pela Karpowership na Baía
          O Brasil depende fortemente da geração de energia hi-  de Sepetiba importaram uma carga cada.
          drelétrica. Segundo o Balanço Energético de 2023, as
          usinas de Itaipu, de Belo Monte e de São Luiz do Ta-  Os traders do setor de gás natural que operam no Brasil
          pajós são algumas das responsáveis por mais de 60% da  esperam que as importações permaneçam  rmes duran-
          geração de energia elétrica nacional.               te o inverno do hemisfério norte. Para isso, o Brasil deve
                                                              pagar prêmios aos preços europeus para atrair o interes-
          A queda, nos últimos meses, dos níveis de armazena-  se de venda e retirar as cargas durante o inverno para
          mento das hidrelétricas apresenta risco energético ao  ajudar a alimentar a demanda regional.
          país. O passado recente justi ca a atual apreensão com
          seca e importação de GNL. Em 2021, o país foi atingido  Apesar da importação tradicional de gás natural oriun-
          por secas severas, forçando o uso excessivo das térmicas  do de gasodutos da Bolívia e dos avanços, durante o
          e importações recordes de GNL dos EUA. Num cená-    G20 realizado no Rio de Janeiro, nas negociações com a
          rio, onde Ásia e o Cone Sul disputavam as sobras euro-  Argentina para o fornecimento de 2 milhões de metros
          peias de GNL, os preços atingiram um recorde de US$  cúbicos de gás a partir de 2025, o país precisa de mais
          40,145/MMBtu em 5 de outubro de 2021.               volumes imediatos de GNL.

          Por ter uma geogra a favorável, o Brasil possui uma  A necessidade interna de compra de GNL está direta-
          infraestrutura aplicada ao uso de hidrelétricas para a  mente atrelada ao uso crescente de usinas termelétricas

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