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Ambiente de Negócios Internacionais






             Os re exos das eleições norte-americanas na


             cadeia global de gás natural liquefeito e, em


             especial, no Brasil














                                                                     Luis Augusto Medeiros Rutledge
                                                                    é Analista de Geopolítica Energética

               Luis Augusto
                Medeiros
                Rutledge
          A lei do mercado está se fazendo presente nas compras de gás importado. A União Europeia, hoje dependente do su-
          primento de bandeiras alternativas ao fornecimento russo, está comprando cada vez mais gás dos reservatórios de xisto
          dos EUA, o maior exportador de GNL do mundo e a principal fonte de importação do Brasil. Ao disputar a compra
          de GNL com os europeus e atrair os navios gaseiros para o litoral brasileiro paga-se um valor acima do mercado.

          Segundo a Administração de Informações de Energia dos Estados Unidos (EIA), a capacidade de exportação de
          gás natural liquefeito (GNL) dos reservatórios norte-americanos atingirá valores extremamente elevados até 2028.
          Com a vitória ampla de Donald Trump no início do mês, futuros projetos, antes bloqueados por pressões políticas
          e ambientais, começarão a operar conforme planejado, gerando o potencial de exportação de 24,4 Bcf/dia (bilhões
          de pés cúbicos por dia) em 2028.

          Ao longo dos últimos anos, os Estados Unidos (EUA) aumentaram sua in uência na geopolítica energética global
          e se tornaram o maior exportador mundial de GNL. Após o início da guerra da Ucrânia, empresas e países da Eu-
          ropa se tornaram reféns de suprimentos de GNL de bandeira norte-americana, enquanto o  uxo de gás canalizado
          da Rússia diminuía a cada dia. Além disso, devemos citar o mercado asiático que de olho na descarbonização faz a
          gradativa troca do carvão pelo GNL dos EUA.

          O segundo semestre de 2024, no entanto, apresentou incertezas quanto aos impactos que a eleição presidencial
          norte-americana poderia causar na futura política energética de exportações de GNL dos EUA. Riscos geopolíticos
          podem se concretizar a partir de incertezas no suprimento de gás ao mercado europeu e nas sempre urgentes impor-
          tações gás para as termelétricas brasileiras.

          Durante o transcorrer do ano, o governo democrata do presidente Joe Biden sofreu com pressões internas de grupos
          ambientalistas e do próprio Partido Democrata para interromper novos projetos de plantas de regasei cação e di-
          minuir as exportações de GNL, que causaram turbulências internas no governo e incertezas ao suprimento futuro
          para a Europa e Ásia, regiões de alta demanda.

          No campo da geopolítica energética, as visões contrastantes, antes das eleições, de Donald Trump e Kamala Harris
          para o rumo do setor energético norte-americano, colocaram sob risco uma remota recondução da Rússia ao tabuleiro
          de xadrez do suprimento energético europeu. A recente vitória eleitoral de Trump fortalece a indústria de óleo e gás.

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