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Política Comercial
“ dendo mercado para concorrentes com livre acesso.
Isso sem falar nos produtos brasileiros que poderiam
Em termos de desaios, há, em princípio, três ganhar competitividade com a remoção de barreiras
que merecem atenção e acompanhamento: no mercado americano.
Border Adjustment Tax, Buy American e a Em termos de desaios, há, em princípio, três que me-
tendência protecionista... O Brasil não estará recem atenção e acompanhamento. Um é o BAT, que
imune, mas se souber aproveitar os benefícios vai encarecer e desincentivar todas as importações
e as oportunidades que se apresentam, o norte-americanas, o que deverá afetar mais os países
futuro promete com alta dependência de exportação aos EUA do que
o Brasil, entre outros. Mas, algum efeito negativo nas
“ nossas exportações haverá. Menor impacto se espe-
ra para os produtos que não tenham produção simi-
lar nos EUA. Outra preocupação é o Buy American,
que será exigência para as compras governamentais
e eventuais projetos de infraestrutura, o que deve-
É possível ainda vislumbrar outras oportunidades rá prejudicar as importações de produtos similares
para o Brasil. O imenso programa de infraestrutura norte-americanos que tenham capacidade instalada
mencionado anteriormente vai criar um surto de produção suiciente para atender ao surto de de-
de demanda nos EUA por serviços e produtos de manda esperado. Por im, com base nas prioridades
construção. Embora o projeto só admita aquisição elencadas para a política comercial em 2017, espera-
de produtos norte-americanos, a produção local, se uma intensiicação das atividades na área de defesa
em condições normais, não conseguirá atender à comercial, com crescimento no número de petições
demanda nacional em vários bens, em particular nos antidumping e antissubsídios, maior rigor nas investi-
siderúrgicos. Com um surto de demanda, o aumento gações e aplicação de direitos e, provavelmente, maior
das importações é praticamente uma certeza. viés a favor dos peticionários.
A política comercial de Trump tem por objetivo bá- A política comercial de Donald Trump, de tendência
sico eliminar o déicit comercial dos EUA com outros protecionista, vai afetar negativamente todos os paí-
países. Quanto maior o déicit, maior a prioridade de ses que exportam para os EUA, uns mais que outros,
ação. No comércio com o Brasil, os EUA são supera- e o Brasil não estará imune, mas se souber aproveitar
vitários, o que faz com que não representemos risco os benefícios e as oportunidades que se apresentam, o
para seu programa e, por conseguinte, não estejamos futuro promete.
na sua alça de mira. Tal situação pode se traduzir em
oportunidade favorável para se avançar na direção
de um acordo de comércio. Há quem veja um even-
tual acordo comercial Brasil-EUA como um seguro
20
contra eventuais medidas protecionistas de Trump, o
que, a julgar pela facilidade com que este se retira de
acordos, não seria uma garantia contra medidas ad-
versas. Alternativamente, pode-se encarar um acordo
com os EUA como forma de defender e expandir a
posição brasileira no mercado norte-americano, que
desde a assinatura do Nata e de outros acordos bila-
terais pelos EUA, está sob ataque. Produtos nos quais
o Brasil é altamente competitivo, como açúcar, aço,
soja, carne in natura, milho, suco de laranja, entre
outros, estão sujeitos a barreiras signiicativas e per-
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20 Seria mais viável um acordo Brasil - EUA do que um Mercosul-EUA devido à preferência de Trump por acordos bilaterais.
12 Nº 130 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2017