Page 14 - RBCE 160
P. 14
Comentário Internacional
O MAM como sede do G20:
de volta a seus dias de glória
George Vidor
George Vidor é jornalista e economista
O Museu de Arte Moderna (MAM) é uma preciosidade no Rio de Janeiro. Embora tenha perdido parte de seu acervo em um
incêndio anos atrás, o MAM abriga um conjunto de obras importantes de artistas do século XX. Nacionais e estrangeiros.
O próprio museu é uma obra em si. Projeto do arquiteto A onso Eduardo Reidy – que fez uso de grandes vãos livres, um
desa o para a engenharia da época –, concebido em 1952, o MAM foi construído sobre um aterro, bem próximo ao Aero-
porto Santos Dumont e ao bairro da Glória.
A Baía de Guanabara perdeu considerável espaço para esse aterro (que foi estendido nos anos 1960 até o bairro de Botafogo;
a área foi batizada como Parque do Flamengo, com jardins projetados pelo renomado paisagista Roberto Burle Marx). Até
hoje muitos dos antigos moradores se referem ao parque como “o aterro”, entre os quais me incluo.
Além de ser o maior espaço de lazer ao ar livre no Rio – excluindo as praias, obviamente – o aterro possibilitou a expansão de
outros bairros da Zona Sul, com linhas expressas fazendo a ligação viária entre o centro, que sempre concentrou muito das
atividades comerciais e de serviços da cidade (por isso mesmo, região de grande circulação de pessoas e veículos) e o Leme,
Copacabana e a Urca, por exemplo.
A criação do MAM foi muito inspirado na experiência do MoMA, de Nova York. Nelson Rockefeller foi um dos entusiastas
da inciativa – tanto lá como de cá – por muito tempo era considerado uma espécie de padrinho do museu. Coincidência ou
não, a criação do MAM foi uma das molas propulsoras da valorização de obras de arte moderna no Brasil, com a multiplica-
ção do número de colecionadores e apreciadores. Juntamente com a Escola Nacional de Belas Artes, os cursos ministrados
no MAM contribuíram signi cativamente para a formação de vários pintores e escultores nos anos 1960 e 1970.
O aterro, desde sua origem, sempre foi palco de grandes eventos. O primeiro foi um congresso eucarístico que mobilizou a
cidade na primeira metade da década de 1950. E o MAM abrigaria diversos congressos, feiras e outros eventos relacionados
à economia, antes que o Rio passasse a contar com outros centros de convenções mais apropriados para tal.
Em 1967, o MAM foi o local escolhido para uma reunião anual do Fundo Monetário Internacional. Era então habitual que o
FMI realizasse algumas de suas reuniões anuais fora da cidade-sede (Washington, DC). Nos anos 1960, o FMI mantinha forte
in uência sobre a economia global, como tutor das regras do Acordo de Bretton Woods (de 1944). Para compensar o peso
dos Estados Unidos, como maior detentor de quotas da instituição, geralmente para a presidência do Fundo era comum ser
indicado alguém do continente europeu. O acordo de Bretton Woods foi na prática detonado em 1973, quando os Estados
Unidos suspenderam unilateralmente a conversão obrigatória, por uma paridade xa, de dólar em ouro, e vice-versa. O câmbio
utuante se generalizou, sem parâmetros previamente de nidos em qualquer entendimento internacional.
10 Nº 160 - Julho, Agosto e Setembro de 2024