Page 6 - Edição 153 da RBCE Revista Brasileira de Comércio Exterior
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Editorial




         Oportunidades para o Brasil nesse novo mundo




          Para iniciar uma análise que permita identificar no momento presente oportunidades para o Brasil, devemos revelar
          ao leitor a ideia sobre quais “ombros de gigantes” estamos fundamentados para “usar o entendimento adquirido por
          grandes pensadores que vieram antes para fazer progressos intelectuais”. De Winston Churchill usamos: “Quanto mais
          para trás se puder olhar, mais para a frente é provável que se veja”. Por sua vez, de Keynes usamos que “as ideias de
          economistas e filósofos políticos, tanto quando estão certos como quando estão errados, são mais poderosas do que é
          comumente entendido”. De fato, o mundo é governado por poucos homens práticos, que acreditam ser bastante isen-
          tos de qualquer influência intelectual, mas são geralmente escravos de algum economista morto. Em face do momento
          atual que estamos vivendo devemos levar ainda em consideração o seguinte aforismo de Winston Churchill: “Toda a
          história do mundo pode ser resumida pelo fato de que, quando as nações são fortes, nem sempre são justas, e quando
          elas querem ser justas já não são mais fortes”.

          Por que há oportunidades para o Brasil nesse mundo novo econômico? Sob uma perspectiva histórica pode-se cons-
          tatar que para cada mercado/país que o Brasil estabelece e desenvolve relações comerciais de compra, venda de bens,
          serviços e assets (títulos e haveres), em cada espaço geográfico, região, país e/ou bloco econômico há: i) queda nos cus-
          tos de comunicação; ii) queda nos custos de transportes; iii) queda nas tarifas aduaneiras incidentes nas importações
          que são cobradas nas fronteiras do Brasil; iv) acordos preferenciais e de complementação econômica que incentivam as
          trocas entre o Brasil e seus parceiros comerciais; v) uma entrada, uma maior variedade e uma diversificação de bens, ser-
          viços e assets realizados pelos operadores – traders – que atuam nas pontas de compra e venda internacionais; vi) cada
          vez mais empresas, no Brasil, vendendo e comprando bens para exportar (em 2021 somavam cerca de 31 mil), e para
          importar (em 2021 eram cerca de 44 mil); vii) otimização de economias de escala e de escopo que estão sendo obtidas
          ao nível de chão de fábrica e em determinados setores; e viii) em nível de firmas, há otimização e inovação de tecnolo-
          gias de produto e processo; e também intensificação do uso dos recursos naturais e otimização das dotações de fatores.
          Nesse olhar de longa duração em termos temporais observa-se que a localização geográfica e histórica onde estão as
          empresas, os clusters ou as aglomerações econômicas, no Brasil, incentiva a entrada e a permanência e a estruturação de
          uma corrente de comércio que induz o Brasil a participar de todas as fases de globalização econômica, de constituição
          e inserção em cadeias globais de valor, e de acesso a mercados externos para criar comércio e negócios internacionais.

          De fato, em 2021 a corrente de comércio (soma de exportações e importações) do Brasil foi recorde pois somou US$
          499,8 bilhões. Esses valores poderiam ser muito maiores não fosse o chamado “Custo Brasil”. Torna-se indispensável
          remover os obstáculos que travam a remoção desse custo visível e sofrido pelas empresas no Brasil. É preciso compre-
          ender que a inserção no mercado internacional e nas cadeias de valor, sobretudo na vertente das exportações, passa por
          adotar no próximo governo medidas concretas nas áreas de financiamento às exportações; de tributação do comércio
          exterior; de facilitação do comércio; de logística do comércio exterior; e de promoção às exportações.

          A inserção das empresas brasileiras, quer sejam aquelas que nunca operaram no comércio exterior quer sejam as que
          operam com continuidade ou são estreantes, pode ser incentivada e potencializada por meio da expansão do comércio
          de bens, serviços e assets com base, sobretudo, em novos negócios sustentáveis associados à marca, à imagem e à cultura
          brasileira apesar da nova conformação geopolítica e econômica em gestação no mundo.

          Nossa estrutura de bens e serviços, historicamente, sempre foi moldada e conformada – notadamente com base nos
          bens intensivos em recursos naturais renováveis (oriundos do agronegócio) e de recursos não renováveis (provenientes
          das atividades de mineração, óleo e gás, e indústria de transformação) são comercializados em diversos países e regiões
          do mundo, o que nos torna um Global Trader. No grupo de produtos manufaturados os mercados prioritários para as
          nossas vendas externas são a América latina e a África. Em resumo, apesar da presença do Custo Brasil e da perda de
          participação dos manufaturados na pauta brasileira nos últimos anos, a pauta de exportação nacional ainda se apresenta
          diversificada em termos de produtos e mercados. Essa singularidade – caso haja incentivos como acesso a financiamen-
          to e seguro de crédito e não incidência de resíduos tributários nas exportações e ainda haja redução do Custo Brasil
          – significa que poderá expandir a corrente de comércio exterior nacional nos próximos quatros anos.

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