Page 6 - RBCE130
P. 6

Editorial



         Fatos relevantes







         Em março, assistimos a três acontecimentos, que merecem registro, associados direta ou indiretamente com os tex-
         tos que compõem a presente edição da Revista Brasileira de Comércio Exterior (RBCE).

         A reunião de ministros de Finanças e banqueiros centrais do Grupo dos 20 (G20), em Baden-Baden, Alemanha, foi
         palco de dois deles, enquanto o terceiro teve lugar em Viña del Mar, no Chile, local escolhido para sediar a reunião
         dos países signatários da Parceira Transpacíico (Trans-Paciic Partnership – TPP), acordo que icou inviabilizado
         com a retirada dos Estados Unidos (EUA), sacramentada em decreto assinado por Donald Trump no terceiro dia
         de sua administração.

         O giro protecionista da política comercial norte-americana fez sua estreia no G20, reunião que foi descrita pelo
         ministro de Finanças da França como “um desacordo entre um país e o resto dos participantes”. A reunião foi con-
         siderada, exageradamente, um verdadeiro iasco, por dois motivos: o governo norte-americano forçou a retirada, na
         declaração inal, da tradicional condenação ao protecionismo e brecou novo apoio ao acordo de Paris sobre o clima,
         posição que foi acompanhada também pela Arábia Saudita. Houve, sem dúvida, mudança de retórica na declaração,
         o que não é um detalhe menor. No entanto, a despeito das habituais declarações das últimas reuniões do G20, é
         fato que a contundente retórica antiprotecionista era sistematicamente desmentida pelos fatos, como constatado
         nas estatísticas relativas à imposição de novas barreiras ao comércio após a crise inanceira internacional, sempre em
         constante elevação.  De outro lado, a retirada de apoio do governo Trump à luta contra a mudança climática era fato
         previsível, conirmado pelas nomeações de seu staf nessa área.

         O mais preocupante, contudo, é que as piores expectativas em torno da nova política comercial norte-americana
         não puderam ser desconirmadas. Quais os limites de uma formulação de políticas comerciais orientadas pelo lema
         de America First? Mercantilismo primitivo? Protecionismo unilateral agressivo? Ignorância das regras da Organiza-
         ção Mundial de Comércio (OMC)? Ainda não há respostas que permitam afastar tais temores. O texto de Aluisio
         Lima-Campos, que abre a presente edição da RBCE, fornece alguns elementos para se avaliar essas alternativas.
         O segundo fato relevante, também registrado em Baden-Baden, foram as declarações e anúncios do ministro Hen-
         rique Meirelles. A retórica do ministro brasileiro não transcendeu o mundo, mas teve signiicado para o Brasil, onde
         não deveria passar despercebida. Mudou a linguagem, mudou o posicionamento e, com isso, houve forte sinalização
         de mudança de rumos. O Brasil se manifestou favorável à abertura comercial, mas foi além, pois reconheceu que
         o protecionismo foi negativo para o país e que os setores que tiveram uma abertura maior no passado foram os
         que mais progrediram, porque puderam se modernizar e se tornar competitivos internacionalmente. Foi revelada a
         intenção de aderir à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, sigla em inglês) em
         prazo de um a dois anos, o que coniguraria uma drástica mudança de posição do país.

         As declarações e entrevistas de Meirelles em Baden-Baden destacaram a elaboração de estudos, ainda em andamen-
         to, tendentes a embasar novas medidas de liberalização: corte unilateral de algumas tarifas; reavaliação de progra-
         mas de apoio baseados em isenções e subsídios, na medida em que forem vencendo; reformas que visem elevar a
         produtividade. Também neste caso há fatos que conferem credibilidade às declarações, como a criação de uma se-
         cretaria de apoio às reformas microeconômicas, estudo em fase adiantada sobre a abrangência, impacto e operacio-
         nalização da concessão de ex-tarifários e reexame da estrutura de proteção efetiva. Outro fato também destacado e
         já concretizado foi a diminuição da exigência de conteúdo local, medida que precisou conciliar visões contrastantes
         no próprio governo e que resultou em solução de compromisso materializada na adoção de novas regras que já serão
         válidas para a 14a rodada de licitações de petróleo e gás prevista para setembro. As novas regras implicaram forte
         diminuição dos percentuais exigidos e seus impactos precisarão ainda ser avaliados.





         4                                                                     Nº  130 -  Janeiro/Fevereiro/Março de 2017
   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   11