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Editorial
Funcex 40 anos: lições de um seminário
O seminário comemorativo dos 40 anos da FUNCEX, realizado com apoio do Banco Santander, reuniu um con-
junto de especialistas, muitos associados à sua história, para uma relexão sobre o comércio exterior brasileiro. Um
resumo do debate aponta para um roteiro sobre questões essenciais.
Velhas e novas questões. Desde a fundação da FUNCEX ocorreram mudanças expressivas no comércio exterior.
O Brasil de 2016 não é igual ao de 1976. Ainda assim, há uma agenda de transformação inconclusa e questões pen-
dentes de resolução que se alastram há décadas. Neste período, o Brasil passou de um país cronicamente asixiado
pela restrição de divisas para um país com expressivas reservas internacionais; o agronegócio tornou-se eiciente e
desenvolveu competências e forte vocação exportadora; a pauta exportadora aumentou e diversiicou-se; empresas
brasileiras passaram a investir no exterior; o comércio e a produção doméstica enfrentaram novos desaios, criaram
novas oportunidades e sofreram impactos derivados da ascensão da China e do resto da Ásia.
Persistem, contudo, velhas questões: a agenda do Custo Brasil evoluiu pouco; a proteção comercial aumentou ao
invés de diminuir, após a liberalização comercial promovida no início dos anos 90; cresceu também a ineiciência
e não foram eliminadas muitas das distorções do sistema tributário, dois fatores que afetam sobremaneira a capaci-
dade de o Brasil se integrar com o resto do mundo. A economia brasileira permanece fechada e o mercado externo
continua sendo um elemento pouco central na estratégia de parte expressiva das empresas.
Interdependência. Há uma forte interdependência entre a agenda macroeconômica doméstica e a agenda de co-
mércio exterior, bem como entre o cenário doméstico e o internacional. Não é possível traçar cenários prospectivos
para o comércio exterior brasileiro sem examinar as políticas domésticas e destacar as incertezas que prevalecem na
economia internacional.
As avaliações para o desempenho da economia brasileira no curto prazo apontam para uma recuperação lenta da
atividade econômica, um papel moderado das exportações como fonte de dinamismo e a necessidade imperiosa de
se enfrentar a agenda iscal. Aprovado o teto para a expansão dos gastos públicos, a recuperação ainda depende da
aprovação da reforma da previdência, da queda da inlação, do consequente aumento dos graus de liberdade para se
promover reduções da taxa de juros, alem de reformas microeconômicas que reforcem a competitividade. Do suces-
so no enfrentamento dessas questões dependerá, em larga medida, o futuro de nosso comércio exterior. A agenda
de políticas domésticas é, sem dúvida, muito pesada, mas o desaio pode ser encarado desde uma perspectiva alen-
tadora: avanços nessa agenda serão premiados com expressivos ganhos de competitividade. E eles não dependem do
cenário externo, mas fundamentalmente de nós.
O cenário internacional, por sua vez, se apresenta pouco propício, contrastando com o longo período de bonança
experimentado até a eclosão da crise inanceira internacional. As previsões de curto prazo apontam para um avanço
lento da demanda mundial e do comércio internacional. No exame do “efeito Trump” sobre a economia brasileira
prevaleceu a percepção de que as suas políticas podem contribuir para impulsionar a demanda agregada americana
e reforçar a tendência de elevação da taxa de juros. Esse último efeito, ao afetar o luxo de capitais dirigido ao Bra-
sil traria novos desaios para a economia brasileira, podendo contribuir para reduzir a velocidade do processo de
recuperação. No médio prazo, contudo, não é possível descartar alguns efeitos positivos, como a criação de opor-
tunidades para as exportações brasileiras e a maior atratividade do Brasil para parceiros que tiveram frustradas sua
aspiração de participar de acordos que não poderão não mais se concretizar. Ainda assim, prevaleceu a percepção
2 Nº 129 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2016